Perfil
Da desconfiança até a 6ª Feira da Reforma Agrária em Atalaia: a trajetória de Seu Antônio
Por Nicole Mafra
Da Página do MST
Seu Antônio, de 51 anos, com um olhar desconfiado, iniciou sua história no Movimento Sem Terra há 5 anos. “Eu era operador de máquina e não gostava nem de ouvir falar em Sem Terra”, disse ele sobre suas perspectivas antes de se integrar ao MST. “Foi quando adoeci e comecei a ajudar meu sogro em roças. Chegou um tempo em que arrendaram a terra e queriam tirar os roceiros de lá e aí tivemos que ingressar no MST”.
Marcadas por uma repulsa disseminada pelos veículos de comunicação que desconhecem a verdadeira importância do Movimento, a vida de Antônio teve uma verdadeira reviravolta a partir desse ingresso.
Quase que forçadamente devido às condições adversas, Seu Antônio diz se envergonhar de sua entrada no MST, não pela ação em si, mas pela visão errônea que tinha da sua atividade. “Uma imagem que me marca muito é a minha esposa e meu sogro indo na frente se cadastrar e eu atrás deles dois”, fala ele sobre esse primeiro passo em direção ao abraço do Movimento Sem Terra.
Primeiros passos e caminhada
Já dentro do Movimento, porém, ainda com relutâncias, Seu Antônio lembra: “eu não participava de reuniões nem nada, até o dia em que o coletivo da juventude passou na minha barraca e tive que explicar sobre as ervas medicinais que planto e aí comecei a me envolver até me chamarem para a direção do acampamento”.
Com um vasto conhecimento e sabedoria, gradualmente Seu Antônio foi conquistado pela luta e a mística da coletividade do Movimento até ser destinado para tarefas de responsabilidade no Acampamento Marielle Franco, onde atua com muito orgulho até hoje em Atalaia, na Zona da Mata de Alagoas; sentimento muito oposto àquele de seu primeiro momento.
Feira e sabedoria popular
Seu Antônio participa hoje pela quarta vez de uma Feira organizada pelo MST, e é exatamente na 6° edição da Feira da Reforma Agrária em Atalaia, cidade onde vive acampado, que ele está estreando a exposição de seus produtos para a venda.
Em sua banca encontram-se sabonetes medicinais, sanatórios, ervas para o cultivo e o que é de mais precioso, não custa nada, e que Seu Antônio tem prazer em passar: seus conhecimentos e dicas sobre a medicina natural e o cultivo de mudas de forma agroecológica.
“Hoje me sinto feliz, esse é o lugar que me sinto feliz”, apesar de todas as dificuldades enfrentadas por um acampado, é assim que termina o relato de Seu Antônio: carregado de gratidão e renovado por todas as oportunidades que o Movimento Sem Terra ofereceu, dentre elas, poder viajar para outros lugares do Brasil e todo o acolhimento e suporte para garantir a dignidade do trabalho no campo.
*Editado por Fernanda Alcântara