Reforma Agrária Popular
Turismo de base comunitária no MST em Sergipe inspira pesquisa e lançamento de livro
Por Díjna Torres e Rosa Oliveira
Da Página do MST
No contexto da agricultura familiar, o desenvolvimento de atividades não agrárias, como o turismo, tem sido visto como uma ferramenta e alternativa para a geração de renda, dinamizando o cotidiano dos assentamentos com a recepção de visitantes que buscam se conectar com o campo e a natureza por meio da história de luta e organização das famílias assentadas.
Pensando nisso, a educadora Rosa Oliveira, por meio de sua pesquisa de Mestrado pelo Instituto Federal de Sergipe (IFS), realizou um acompanhamento no assentamento Moacir Wanderlei, em Nossa Senhora do Socorro, município sergipano. Sua pesquisa observou a crescente procura do local para visitas pedagógicas e experiências, além do fluxo normal de visitações sociais e atividades políticas.
Conhecido como Quissamã, o assentamento Moacir Wanderlei é composto por 34 famílias que vivem e produzem muitos alimentos, estando localizado a 17 km da capital Aracaju. De acordo com Rosa Oliveira, o assentamento tem grande procura. “Decidimos levantar os principais atrativos para organizar essas visitas dentro da proposta do turismo de base comunitária e estruturamos o roteiro de acordo com o perfil do grupo, envolvendo todos que participaram diretamente da pesquisa e as demais famílias que se integraram ao longo do processo”, afirmou.
Rosa destaca ainda que, na proposta do turismo de base comunitária, o assentamento mantém suas atividades cotidianas durante as visitas. “As atividades de turismo de base comunitária fortalecem as práticas já existentes no assentamento. Aos visitantes são oferecidas a hospitalidade típica da organização local, a participação no plantio da horta, na colheita, na alimentação dos animais (peixes, porcos, galinhas), além de conhecerem o quintal agroecológico, os artesanatos e a história do assentamento. Tudo é organizado com base nas potencialidades que o grupo decide compartilhar”, explicou.
Nas sociedades contemporâneas, o turismo tem sido percebido não apenas como lazer, mas também como uma possibilidade de vivências e experiências em sintonia com a cultura local, o ambiente, os patrimônios, as memórias e a historicidade dos sujeitos, além das lutas sociais e da defesa dos territórios tradicionais. Esse novo olhar sobre o turismo é uma resposta às críticas às práticas convencionais, muitas vezes pautadas na lógica de massificação.
Neste sentido, é importante destacar que os assentamentos organizados pelo Movimento são também espaços de visitação e preservação da memória de luta. Por meio de intercâmbios técnicos e sociais realizados por estudantes, agricultores, artistas, organizações sociais e sindicatos nacionais e internacionais, pequenas e médias iniciativas de turismo têm surgido, como o turismo de experiência, o turismo pedagógico e o turismo comunitário. A pesquisa de Rosa Oliveira evidenciou que essas iniciativas precisam ser catalogadas coletivamente para seu fortalecimento.
“Contribuir por meio do estudo e da pesquisa em turismo para divulgar as potencialidades do assentamento Moacir Wanderlei foi um prazer. Minha militância no Movimento sempre me proporcionou o privilégio de fazer parte dessa construção. Sempre me inquietou o fato de tantas coisas acontecerem nos assentamentos e, muitas vezes, não conseguirmos dar visibilidade. A sociedade nos vê apenas pelo reflexo do conflito. As ferramentas do turismo, com foco na sustentabilidade, podem contribuir muito para fortalecer a luta. Destaco ainda que a maior parte das atividades e roteiros são protagonizados por mulheres, jovens e anciãos, o que nos oferece indicativos importantes para refletir sobre os desafios da organização social nos assentamentos. Por exemplo, o papel extraordinário dos idosos e idosas como guardiões da memória de luta e história da comunidade”, celebrou Rosa.
Resultados e lançamento do livro
Os estudos e pesquisas de Rosa culminaram no lançamento do livro Wanderley: Belezas, Saberes, Sabores e o Turismo de Base Comunitária, uma síntese de todo o potencial dos assentamentos de reforma agrária. A obra foi desenvolvida em parceria com a orientadora de Rosa, a Prof.ª Dr.ª Irineia Rosa, do Instituto Federal de Sergipe (IFS), e será lançada oficialmente no dia 13 de dezembro, às 18h, no Armazém do Campo de Sergipe, na Rua Dom Bosco, 496, bairro Suíssa, em Aracaju.
Para Dona Maria dos Prazeres Feitosa, conhecida como Dedê e moradora do assentamento Moacir Wanderlei, é motivo de grande alegria celebrar o trabalho desenvolvido por Rosa junto à comunidade. “O turismo veio para fortalecer, porque o assentamento passou a se envolver mais com essa proposta de trazer pessoas que possam conhecer nossa história e ter a oportunidade de provar nossa alimentação. Também nos ajudou a organizar o assentamento, preservar as nascentes dos rios e fortalecer a agricultura familiar. A pesquisa de Rosa e da professora veio em boa hora e é uma realização muito importante para nossa comunidade”, concluiu Dedê.
Quem tiver interesse em conhecer o assentamento e participar das visitas pode entrar em contato pela página no Instagram @quissama_. Ao final de cada visita de pelo menos dois dias, ocorre o plantio de uma muda de árvore no assentamento, como símbolo de amizade e defesa da natureza, em sintonia com o programa de reflorestamento desenvolvido pelo movimento.
*Editado por Fernanda Alcântara