Feira da Reforma Agrária

Dos assentamentos da Reforma Agrária para o Brasil: A riqueza do caju e da cajuína do PI

Sem Terra no Piauí transformam caju em cajuína artesanal, com protagonismo de mulheres e jovens na produção direta

Foto: MST no Piauí

Por Rayane Dias – Comunicação do MST no Piauí
Da Página do MST

No coração do semiárido, no meio da caatinga piauiense, a cerca de 30 km do município de Pio IX, o assentamento Nova Esperança se destaca como exemplo de resistência no campo. Entre os mandacarus e o chão seco, floresce uma atividade que tem mudado a realidade de dezenas de famílias: a produção artesanal de cajuína, bebida tradicional nordestina feita a partir do suco fermentado do caju.

A iniciativa teve início em 2019, após a realização de um curso voltado à produção de cajuína na própria comunidade. A partir desse momento, os moradores decidiram transformar o conhecimento adquirido em prática, iniciando uma produção que, inicialmente, era voltada apenas para o consumo interno. Com o tempo, a qualidade do produto ganhou notoriedade, e a atividade se consolidou como fonte de renda e valorização da cultura local.

Apesar da ausência de equipamentos industriais ou apoio agroindustrial, os assentados conseguiram desenvolver um sistema produtivo totalmente artesanal, que atualmente resulta em cerca de 8 mil unidades de cajuína por ano. Ainda que expressivo, esse número poderia ser ainda maior, caso houvesse infraestrutura adequada para ampliar a escala de produção.

A principal matéria-prima da bebida é o caju das variedades CCP 76, conhecido por seu sabor adocicado, e BRS 226, o mais comum na região. A escolha das variedades reflete a adaptação às condições do solo e ao clima do semiárido, bem como a preocupação em manter a qualidade da bebida.

“Se o caju não for colhido no dia certo, ele já não serve no dia seguinte. Mas, ao fazer a cajuína, você consegue ampliar a validade do produto para até dois anos, o que nos dá tempo para comercializar aos poucos”, explica Naldo, assentado e um dos responsáveis pela produção.

Além da durabilidade, a transformação do caju in natura em cajuína tem um impacto direto na economia do assentamento. Ao evitar a venda para atravessadores, que muitas vezes impõem preços baixos ou deixam de comprar repentinamente, os produtores garantem que a renda permaneça na comunidade.

“Quando a gente vende tudo para o atravessador e ele resolve não comprar ou abaixar o preço, ficamos de mãos atadas. Com a cajuína, temos autonomia e retorno para dentro do assentamento”, destaca Naldo.

A produção envolve diretamente mulheres e jovens. Toda a venda é feita diretamente pelos produtores, garantindo que os lucros não sejam divididos com intermediários. Esse modelo fortalece a organização da comunidade e impulsiona novas iniciativas, como a participação do assentamento na Feira da Reforma Agrária, em São Paulo, uma oportunidade de apresentar à sociedade o sabor e a força do alimento que carrega em si o fruto da terra conquistada, cultivada e transformada com dignidade.

*Editado por Fernanda Alcântara