Diversidade e resistência
Sementes e mudas de árvores nativas como cadeia produtiva: cuidar dos bens comuns e gerar renda para a agricultura familiar
Feira Nacional da Reforma Agrária trouxe 15 mil mudas nativas e 500kg de sementes de todos os biomas

Por Diógenes Rabello/Equipe de texto da 5ª Feira
Da Página do MST
Que sabemos da grande diversidade produtiva da agricultura familiar, exposta nos estandes da Feira Nacional da Reforma Agrária, é fato. Diversas são as cadeias produtivas desenvolvidas pelo MST em seus assentamentos nos diversos cantos do Brasil, como a dos laticínios, do café, mandioca, hortifruti, grãos e outras.
Também chama atenção a variedade gustativa que ganha espaço no centro do Parque da Água Branca, nas barracas da Culinária da Terra. Cada estado brasileiro traz a sua cultura demonstrada através de sabores, texturas e cores dos pratos típicos de cada região, que vão desde a tapioca, uma refeição mais leve do café da manhã até a buchada de bode, prato típico de Alagoas e do Sergipe.
Mas a Feira abre espaço também para a comercialização de mudas e sementes nativas do Brasil. O trabalho da agricultura de base familiar para guardar as sementes crioulas (da vida ou da paixão em algumas regiões) é milenar. Para além do cuidado em manter, guardar, reproduzir ao cultivo em ciclos produtivos seguintes, se trata de preservar a memória biocultural da alimentação e da identidade dos sujeitos sociais camponeses.

Guardar sementes é um ato de resistência na terra tanto quanto um ato de cuidado com os bens comuns e com a conservação ambiental, já que a partir dessa prática as famílias rechaçam o uso capitalista dos recursos naturais e combatem a transgenia, uma das formas degradação ambiental que provocar contaminação ambiental e acaba com a biodiversidade.
Joice Lopes, do Setor de Produção do MST em SP, ressalta que: “A semente é parte fundamental do cultivo. Ela tem sua dimensão produtiva, que está alí a seleção, no cuidado, quando se guarda para o próximo plantio. Mas ela também tem essa dimensão cultural para as nossas famílias, porque quando ele guarda a semente ele também guarda uma identidade. E temos também a troca de sementes né, que é uma outra característica, que está voltada para a troca de saberes, para o trabalho na sua dimensão coletiva”.

Essas sementes e mudas têm, ainda, demonstrado a possibilidade de geração de renda para famílias de agricultores camponeses a partir da organização de grupos coletores de sementes e de construção de viveiros de mudas nativas, que potencializa a venda de mudas e a recuperação ambiental nos territórios da Reforma Agrária.
A 5ª Feira Nacional da Reforma Agrária trouxe 15 mil mudas nativas e 500kg de sementes oriundas de todos os biomas brasileiros. Elas representam também a abundância de árvores frutíferas que produzem alimentos da base alimentar do povo brasileiro, além de tantas outras ornamentais e de plantas medicinais, essas últimas sendo amplamente beneficiadas e processados por cooperativas e associações de agricultores em todo o Brasil, resultando em outra frente de geração de renda dentro dessa cadeia produtiva.
“Se nós estamos falando de uma produção agroecológica, nós precisamos falar em soberania, precisamos ter sementes que sejam adaptadas a cada território, mas que a gente também tenha essas sementes para nossa autonomia, entendendo que a gente tem uma grande biodiversidade nos territórios. Então, na nossa 5ª Feira Nacional do MST, para nós o debate das sementes e também das mudas são estratégicos, pois elas são fundamentais e é o que realmente garante que a gente consiga desenvolver uma produção agroecológica, uma produção sustentável, mas que pense ali também na soberania e autonomia dos camponeses”, destaca Meriely Oliveira, dirigente do MST na Bahia.
* Editado por Mariana Castro