Além do Alimento
Feira da Reforma Agrária tem espaço para venda de livros e mudas agroecológicas
Novidade este ano, o “Caminhos da Agroecologia”conecta campo e cidade na luta em defesa de um outro modelo de produção

Por Vanessa Gonzaga/Equipe de texto da 5ª Feira da Reforma Agrária
Da Página do MST
Quem vem para 5ª Feira da Reforma Agrária com a expectativa de encontrar apenas alimentos se impressiona com a diversidade dos espaços montados no Parque da Água Branca. Nos quatro dias de programação, além da comercialização da produção vinda de assentamentos e acampamentos de todo o Brasil, acontecem simultaneamente vários eventos voltados também para a formação ideológica e para o diálogo com a população dos centros urbanos sobre a pauta da agroecologia.
Um desses espaços é o Café Literário, que reúne além de uma banca do Armazém do Campo, as vendas de livros da Editora Expressão Popular. A editora existe com uma missão: difundir a produção intelectual de esquerda. É o que explica Lia Urbini, revisora, que na Feira participa da equipe de vendas. “A Expressão Popular comemorou o ano passado 25 anos. Desde o começo, quando fundamos, a ideia era ser um espaço que garantisse a publicação dos livros, cartilhas e do material de formação política de movimentos populares.
Um outro desafio é democratizar o acesso à leitura através de preços mais justos para competir em pé de igualdade com as editoras comerciais. Quem ganha com isso são os leitores, como a aposentada Sandra Souza, que aproveitou a Feira para comprar livros. “Eu quase não compro livro, porque livro geralmente é muito caro. Então eu frequento biblioteca, e como sou aposentada, tem essa facilidade de pegar e devolver. Mas tem muitos livros que você não encontra em biblioteca. E o preço menor, né?”, diz.
A escolha de Sandra foi “Lula e a política da astúcia: de metalúrgico a presidente do Brasil”, uma biografia do presidente do Brasil escrita por John D. French que está com preço promocional de R$ 25,00. Para além das compras, ela vê a feira como uma forma de apoiar o MST. “Eu acho que possibilita muito o crescimento do Movimento. A gente vê muita gente interessada em colaborar, contribuir, e a gente fica com vontade de ajudar. Já é o terceiro dia que a gente vem e compra”, finaliza.


Outro espaço criado nesta edição da feira é o “Caminhos da Agroecologia”. Quem entra no Parque pela entrada principal dá de cara com máquinas chinesas que são pensadas e fabricadas para a agricultura familiar e pode seguir caminhando pelo conjunto de tendas que reúnem os acúmulos do Movimento Sem Terra na transição agroecológica, como a criação de cooperativas e a experiência de produção de mudas.
O objetivo do Caminhos da Agroecologia é mostrar a contribuição do Movimento na pauta para a sociedade, que pode conhecer de perto os desafios da produção de alimentos saudáveis e de reflorestamento, ações que contribuem diretamente para a popularização da Agroecologia.
Assentado da Reforma Agrária e engenheiro mecânico, Felipe Vodzik fala da importância da mecanização agrícola a partir de uma outra perspectiva. “O MST tem uma frente de mecanização justamente para democratizar o acesso à mecanização para agricultores familiares. Hoje as principais fábricas de tratores no Brasil, todas elas são voltadas para o capital, para o agronegócio exportador e explorador. O MST vem ao encontro disso. Pretendemos primeiramente implantar cinco fábricas de máquinas distribuídas nas regiões brasileiras”, projeta.
A proposta ousada vem sendo impulsionada pelo Centro Brasil-China para Agricultura Familiar, que reúne, além do MST, a BAOBAB Associação Internacional para Cooperação Popular, a Universidade de Brasília (UnB) e a Universidade Agrícola da China e já está em execução. “As máquinas estão em fase de teste em Brasília e também vão para os nossos territórios de produção pra gente verificar a adaptação das máquinas, que precisam ser adequadas à realidade brasileira”, explica Vodzik.

No Caminhos da Agroecologia também é possível comprar mudas de diversas espécies. Uma parte delas veio diretamente do estado de Sergipe, com o Horto Florestal Sustentável. Miguel Arcanjo, que participou da produção das mudas, ressalta a variedade presente na feira “A gente trouxe de lá, por exemplo, a pitangueira; o jenipapo, que aqui só conhecem pela tintura, não pelo fruto; o cajueiro, que já foi vendido rapidamente e a gente também trouxe algumas medicinais como pau-ferro, como aroeira que são muito usados, por exemplo, na fitoterapia”.
Vendidas por apenas R$ 10,00, o papel das mudas vai além da relação comercial. Elas são uma forma de conscientizar e reflorestar na prática. “Esse ano o MST inovou com esse espaço e foi muito importante não só para as pessoas conhecerem. Com essa inovação, as pessoas agora estão saindo mais conscientes, mais informadas e cada pessoa que passa por aqui, sabe do seu papel na sociedade”, finaliza.
*Editado por Fernanda Alcântara