Sul Global
Curso sobre BRICS e Conselho Popular começa nessa sexta-feira (11), na ENFF
Evento acontece logo após uma crise diplomática entre Brasil e Estados Unidos desencadeada pelo presidente Donald Trump impondo "tarifaço" de 50% sobre exportações

Por Fernanda Alcântara
Da Página do MST
Começou nesta sexta (11), na Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF), uma nova etapa na discussão sobre o futuro dos BRICS no “Curso de Formação BRICS”, organizado pela ALBA Movimentos e o Conselho Popular dos BRICS. Este evento surge em um momento pertinente, logo após uma crise diplomática entre Brasil e Estados Unidos desencadeada por uma decisão do presidente Donald Trump. Em uma carta enviada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Trump anunciou a imposição de uma tarifa de 50% sobre todas as exportações brasileiras para os EUA, com vigência a partir de 1º de agosto.
A resposta brasileira não tardou, e o presidente Lula utilizou as redes sociais para rechaçar a medida, classificando como falsa a alegação de Trump sobre um suposto déficit na balança comercial com o Brasil. Lula afirmou que o “tarifaço” será respondido com a Lei de Reciprocidade Econômica, sancionada em abril, que concede ao Brasil o respaldo legal para suspender concessões comerciais, de investimentos e de obrigações relativas a direitos de propriedade intelectual.
Reafirmando a soberania e a defesa intransigente dos interesses do povo brasileiro como pilares da política externa do país, e considerando que a atitude do presidente estadunidense tem relação direta com a reunião do BRICS, o curso realizado na ENFF dá continuidade às discussões recentes sobre a integração dos povos, destacada na semana passada com o início do Conselho Popular do BRICS, que busca ir além da mera integração governamental.
A programação desta sexta-feira, 11 de julho, teve início com o aprofundamento de temas fundamentais para o entendimento do bloco. A parte da manhã foi dedicada ao painel “BRICS e a nova geopolítica mundial”, com a participação de estudiosos como João Pedro Stédile da coordenação do MST e do Alba Movimentos; Monica Bruckman da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Ana Penido da Tricontinental e da UFRJ. No período da tarde, o foco se voltou para debates sobre “Origens e desenvolvimento dos BRICS: Reforma da governança global e construção da multipolaridade”, contando com as contribuições do economista Paulo Nogueira Batista Jr., Fabiano Mielniczuk (NEBRICS/Conselho Popular) e Marta Fernandez (BPC).

Joao Pedro Stedile começou expondo algumas origens sobre a crise capitalista, como a exploração da natureza visando o lucro, o incentivo às crises climáticas, ideias fascistas e a crise do estado burguês. “Assim, com todas estas crises, alguns países progressistas acabaram tendo um papel nessa conjuntura de uma importância gigantesca [a criação do BRICS], e agora vem aumentando a sua necessidade, porque é o único espaço internacional, hoje, que pode convergir interesses e países com políticas antiimperialistas, ou do anti-capitalismo ocidental”.
Já Ana Penido, trouxe o que chamou de “provocações”, principalmente análises com base nas contradições dos conflitos bélicos e domínio estadunidense ainda na cultura. E Monica Bruckman, por sua vez, complementou o debate com uma análise da conjuntura, em especial a partir do governo Trump nos EUA, a globalização e cooperação entre os BRICS.

Neste final de semana, o debate segue expandindo os horizontes da conjuntura. No sábado, 12 de julho, os participantes poderão acompanhar exposições sobre a reforma do sistema financeiro e monetário mundial, com Maurício Metri (UFRJ) e outros especialistas, além de painéis sobre soberania digital e a questão ambiental e climática frente aos desafios dos BRICS. Esta abordagem multidisciplinar reflete a complexidade e a abrangência dos temas que o bloco enfrenta atualmente, alinhando-se com a necessidade de envolver a sociedade civil nas decisões do BRICS para que a integração dos povos possa gerar projetos socialmente vitais e viáveis.
O domingo, 13 de julho, reserva momentos de reflexão sobre o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB) e o projeto de desenvolvimento do Sul Global, com Elias Jabbour (UERJ) e Marco Fernandes (MST/CP), explorando as contradições e desafios inerentes ao BRICS. O curso será encerrado com um painel intitulado “BRICS: O que queremos? Conselho Popular dos”, que contará com a participação de Rita Coitinho (CEBRAPAZ/Conselho Popular) e João Pedro Stedile, pela ALBA e Conselho Popular, consolidando a perspectiva de uma participação social ativa na construção do futuro do bloco.
Ao dar destaque à participação de membros do Conselho Popular dos BRICS e ao debater a governança global e a multipolaridade, reforça-se a ideia de que a “integração dos povos” é fundamental para fortalecer a organização dos países do BRICS e responder a movimentos que buscam deturpar valores civilizatórios. A iniciativa pretende criar mecanismos de cooperação que levem as demandas da população às lideranças, garantindo que o desenvolvimento do Sul Global seja inclusivo e sustentável.
*Editado por Solange Engelmann