Lançamento
Ao completar 50 anos, Comissão Pastoral da Terra lança Atlas inédito de Conflitos no Campo Brasileiro
O documento reúne quase quatro décadas de dados por meio de mapas, gráficos e textos analíticos

Da Página do MST
Entre os dias 21 e 25 de julho de 2025, a Comissão Pastoral da Terra (CPT) realiza seu V Congresso Nacional, na cidade de São Luís, Maranhão, demarcando 50 anos de existência. Um dos momentos mais aguardados é o lançamento do Atlas dos Conflitos no Campo Brasileiro, documento inédito que traz uma radiografia do campo no Brasil por meio da análise de quase quatro décadas de conflitos. Trata-se do mais abrangente, rigoroso e sistemático levantamento de dados sobre os conflitos no campo existente no país.
O resultado é uma construção conjunta do Grupo de Estudos, Pesquisas e Extensão em Geografia Agrária (GeoAgrária), da Faculdade de Formação de Professores (FFP), da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e do Laboratório de Estudos sobre Movimentos Sociais e Territorialidades (Lemto), da Universidade Federal Fluminense (UFF), com a contribuição de pesquisadores de diversas universidades do país em parceria com a CPT. O trabalho teve como base o registro contínuo de dados pelo Centro de Documentação Dom Tomás Balduino (Cedoc), criado em 1985, onde se encontram arquivadas informações físicas e digitais coletadas pela rede pastoral.
“Os conflitos no campo são marcas da opressão e da violência de agentes capitalistas e do Estado, assim como expressão das ações do campesinato, trabalhadores e dos povos tradicionais no território brasileiro”, afirma Paulo Alentejano, professor titular do Departamento de Geografia da UERJ e um dos organizadores do trabalho. “A CPT, desde 1985, consegue alcançar a expressão mínima das violações de direitos humanos, fundiários e ambientais no Brasil rural. Não existe outra fonte de informação pública ou privada que possibilite melhor aproximação da realidade, dos padrões espaciais e temporais dos conflitos no campo no país”, completou.
De 1985 a 2023, foram registradas 50.950 ocorrências. 80% destes conflitos foram causados por atores hegemônicos (fazendeiros, empresários, grileiros, Estado, etc.) e 20% pelos movimentos sociais do campo. Do total de conflitos no campo, 84% são disputas por terra, 8,9% casos de trabalho escravo e 7,1% conflitos pela água. Regionalmente, 44% dos conflitos no campo ocorreram na Amazônia, 31% no Centro-Sul e 25% no Nordeste. Mais de 50% dos municípios brasileiros registraram conflitos entre 1985 e 2023.
Para a fundamentação das análises contidas no Atlas, foi estabelecida uma periodização a partir dos dados nacionais sobre conflitos por: Terra, Água, Trabalho, Violência Contra a Pessoa, e Ocupações. Dos seis períodos, quatro podem ser associados ao padrão expropriatório (1985-1993, 2000-2002, 2009-2014 e 2015-2023), com o avanço do capital sobre as terras ocupadas pelos trabalhadores rurais e povos e comunidades tradicionais, e dois ao padrão de enfrentamento ao capital (1994-1999 e 2003-2008), quando predomina o avanço das lutas pela terra via ocupações/retomadas, que arrancam dos governos a criação de assentamentos, terras indígenas e territórios quilombolas.
“O último período (2015-2023) é marcado pela ruptura política, quando há o aumento vertiginoso dos conflitos e o fortalecimento das violências tanto do poder público, como do privado, especialmente contra povos e comunidades tradicionais. É o período que possui a maior média anual de ocorrência de conflitos no campo, 1.806”, disse Luiz Jardim Wanderley, professor do Departamento de Geografia da UFF, que também fez parte da organização do projeto. “O resultado do Atlas revela a atualidade da questão agrária no Brasil”, concluiu.
Organização do documento e metodologia
Além da Apresentação e Introdução, o documento está organizado em seis capítulos: (1) Conflitos no Campo Brasileiro; (2) Geografia dos Conflitos Territoriais: a guerra capitalista contra a vida na Amazônia; (3) Conflitos por terra e água no contexto do Eco-Genocídio no Cerrado; (4) Geografia dos conflitos no campo na Região Nordeste: registros de ocorrências de 1985 a 2023; (5) Conflito e Resistência: Comissão Pastoral da Terra e a luta dos Povos Indígenas no Brasil; e (6) Os Conflitos do Campo Brasileiro Envolvendo as Comunidades Quilombolas (2000-2023). Os dados são apresentados em quadros, mapas e gráficos, ao longo de quase 280 páginas do Atlas dos Conflitos no Campo Brasileiro.
Os registros do Cedoc/CPT possuem como origem documental dados primários de relatos de conflitos e violências oriundos dos agentes pastorais, assim como notícias da imprensa coletadas por meio de clipagem a partir de palavras-chave na internet. As informações da imprensa são enviadas às regionais pastorais para maiores informações e detalhamento dos conflitos. Órgãos públicos, movimentos sociais e instituições parceiras da CPT também são fonte de informações para os registros anuais de conflitos. A partir destes dados, os pesquisadores puderam confeccionar os quadros, mapas e gráficos, além dos textos analíticos.
Serviço – Lançamento do Atlas dos Conflitos no Campo Brasileiro (1985-2023)
Data: 21 de julho de 2025 – durante o V Congresso Nacional da CPT
Horário: 16:30
Local: Instituto Estadual de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão (IEMA) – Rua Oswaldo Cruz, 954, Centro, São Luís / MA