Reforma Agrária Popular
MST em Mato Grosso celebra 30 anos: trabalhadores cultivam sonhos e luta
A Feira Estadual da Reforma Agrária reúne famílias e militantes, reafirmando a importância da terra para vida e dignidade

Por Coletivo MST em MT
Da Página do MST
É aqui
Onde os pés trilham seus próprios caminhos na terra,
Marcham por campos e cidades de esperança.
É aqui
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O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra de Mato Grosso (MST em MT) chega aos seus 30 anos de história, resistência e luta. A data é celebrada durante a Feira Estadual da Reforma Agrária, realizada de 14 a 16 de agosto, na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), em Cuiabá. O evento reúne centenas de famílias assentadas e acampadas, trabalhadores urbanos, estudantes, artistas e militantes de todo o estado, reafirmando que a terra é para produzir vida, cultura e dignidade.
A feira oferece produtos saudáveis vindos diretamente dos assentamentos e acampamentos, como as frutas, verduras, legumes, sementes crioulas, polpas, farinhas, mel, artesanatos, além de apresentações culturais, debates, oficinas e rodas de conversa sobre agroecologia, soberania alimentar e direitos sociais. Mais que um espaço de comercialização, é um espaço cultural e pedagógico, que expressa a força coletiva construída ao longo de três décadas.
Nesse processo de organização e luta permanente, chegamos aos 30 anos graças à solidariedade de classe e à determinação de seguir defendendo a terra, a natureza e os bens comuns. Na produção de alimentos que permita a produção e reprodução da vida e o bem viver.

São 30 anos cultivando a arte de lutar e sonhar, materializada no cuidado com a terra, com as sementes, com a água, com os bens comuns da natureza e na construção de novas relações entre as pessoas e delas com a natureza, numa perspectiva de construção da emancipação humana.
Portanto, celebrar três décadas é reafirmar compromissos de seguir produzindo alimentos saudáveis, lutar pela terra e pela reforma agrária popular, aprofundando o cuidado com os bens comuns, construindo um novo modelo de produção baseado na agroecologia e projetando a soberania alimentar e popular, para a autonomia e a libertação dos povos.
Vivemos tempos de múltiplas crises do modo de produção capitalista, que atravessam nossas vidas de diferentes formas, seja pela violência, pela insegurança, mas, talvez a mais sensível e a menos dita seja o sentido do medo.

A pedagogia do medo é uma prática histórica dos dominadores. É o controle pela ameaça, pela fome, pela violência racial, pela repressão policial, pelo desemprego e pela doença. O medo individualiza, isola, gera solidão. E, nesse processo, nos sentimos derrotados, dobrados diante da árdua batalha contra o resto do mundo.
É justamente por isso que o MST causa tanto incômodo à ordem vigente e é alvo de enfrentamento, cooptação e criminalização. É por isso que o MST é uma organização que nos coloca juntos/as, convoca ao coletivo, ao caminhar de mãos dadas. E quando nos unimos, percebemos que podemos ser gigantes, capazes de enfrentar as mazelas do modo de produção capitalista; rompemos a pedagogia do medo e nos permitimos sonhar futuros, e não é um sonho perdido, é um sonho que nos coloca em movimento. É um sonho que celebra a vitória do outro como nossa, é o sonho de transformação, de superação e de vida digna para a humanidade. Pois o “sonho que se sonha junto é realidade”.
Nada causa mais horror à ordem do que pessoas que sonham e lutam. Por isso a extrema-direita teme o MST, porque o convite que fazemos não é para uma vida fácil, mas para a liberdade de sonhar e lutar.
Em tempos de crise, o capital aprofunda a acumulação por expropriação dos povos do campo, das águas e das florestas. Apenas 1% dos mais ricos (homens, brancos) controlam quase 50% da riqueza produzida no Brasil e no mundo. O MST anuncia a necessidade da desconcentração de renda, terras e poder (econômico, racial, patriarcal). E nos convoca para seguir lutando pela Reforma Agrária Popular, reafirmando a necessidade da partilha dos frutos do trabalho humano como condição de produzir dignidade e direitos humanos.

E em meio à crise ambiental que já vem provocando mortes, perdas humanas e a destruição da natureza, o MST reafirma a importância da agroecologia como prática vital, metabolicamente conectada à natureza. Ela é central no enfrentamento das catástrofes, indispensável para mitigação e adaptação. E só se faz com acesso à terra, investimento, pesquisa e partilha de saberes diversos; não hierárquicos.
A luta também é cultural. Cultura como humanização, como forma de sentir e organizar a vida. Cultura que convoca à revolução.
Das muitas conquistas nesses 30 anos, a arte, o sonho, o coletivo e a amorosidade são imensuráveis.
Por terra, trabalho e direito de existir!
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Aqui está
Aqui é onde o futuro acontece antes e depois.
É AQUI.
*Editado por Fernanda Alcântara