Internacionalismo
Palestina livre: “Para deter o genocídio, você tem que mover multidões”, diz Ualid Rabah
O presidente da Federação Árabe Palestina do Brasil (FEPAL), Ualid Rabah, participou do seminário “A Palestina é dos palestinos”, durante a 22ª Jornada de Agroecologia

Por Emanuelle Viana, do Coletivo de Comunicação da Jornada de Agroecologia
Da Página do MST
A solidariedade ao povo palestino esteve presente em diversos momentos da 22ª edição da Jornada de Agroecologia, realizada no Centro Politécnico da UFPR, em Curitiba (PR), de 6 a 10 de agosto. O tema ganhou visibilidade com faixas e cartazes ao longo da marcha de abertura, e durante a mística de encerramento, quando houve o plantio de uma muda de oliveira, árvore símbolo da resistência palestina.
A reflexão mais profunda e a denúncia sobre o genocídio praticado pelo governo de Israel também fez parte do seminário ministrado pelo presidente da Federação Árabe Palestina do Brasil (FEPAL), Ualid Rabah, na conferência “A Palestina é dos palestinos”. O debate reuniu estatísticas e dados históricos sobre o atual cenário de genocídio cometido contra o povo palestino, além de evidenciar a importância da discussão do tema no evento.

“A Jornada de Agroecologia é um espaço de luta anti-hegemônica, anti-colonial, anti-imperialista, de superação do sistema de acumulação que despreza a vida humana, e em grande medida. O que acontece na Palestina decorre exatamente disso, da exacerbação da necessidade de tomada de recursos, territórios e geografias estratégicas, a que têm importância para o comércio, importância bélica e geopolítica de um modo geral”, diz Ualid.
Ao retomar o contexto histórico do assunto, o presidente da FEPAL explica que o projeto sionista foi fundamentado a partir da obra O Estado Judeu (1896), de Theodor Herzl. Ele ressalta que esse projeto desenhou a Palestina como uma terra sem povo, em um movimento que destinou o seu território à criação de Israel – decisão discutida no Primeiro Congresso Sionista Mundial, realizado em 1897, na Suíça. A aplicação do plano de colonização da Palestina, no entanto, tem acontecido há 78 anos. Segundo Ualid, de 1947 a 1951, a ocupação da região incluiu uma limpeza étnica de 78% da demografia do povo palestino e a tomada do território à força.
“Qualquer ação israelense visa alcançar um objetivo, que é o objetivo estratégico: judaizar na integralidade da demografia e da geografia palestina. Este sempre foi o projeto sionista de uma supremacia judaica, em que apenas pessoas de fé ou cultura judaica estejam no território. Tenho cidadania, tenho nacionalidade e tenho o direito de permanecer nessa terra com a totalidade dos seus recursos”, enfatiza Ualid.

De acordo com dados divulgados pela FEPAL e mencionados pelo presidente da entidade, as vítimas palestinas exterminadas e desaparecidas sob os escombros desde o dia 07 de outubro de 2023, já ultrapassam o número de 73.449, o que representa 3,3% da demografia da Faixa de Gaza. Ao situar o levantamento na densidade demográfica do Brasil, de maneira comparativa, se o cenário ocorresse no país, a quantidade de pessoas vitimadas seria equivalente a 7 milhões de brasileiros.
O estudo Counting the Dead in Gaza: Difficult but Essential (Contando a Morte em Gaza: Difícil, mas Essencial, traduzido para o português), publicado em julho do ano passado na revista The Lancet, mensura que a cada morte resultante diretamente dos efeitos bélicos, outras quatro acontecem. Na época, os casos de mortes reportadas somavam 37.396, número que, ao considerar as vítimas indiretas, era de 180 mil palestinos exterminados. Atualmente, ao seguir os mesmos critérios de contagem, a estimativa ultrapassa 300 mil mortes.


Outro estudo recente, realizado pelo economista Michael Spagat, da Royal Holloway College, da Universidade de Londres, estima 75.200 mortes entre outubro de 2023 e janeiro deste ano. Entre as vítimas, 56,6% eram mulheres (de 18 a 64 anos), crianças (menores de 18 anos) e idosos (mais de 65 anos). “O projeto sionista continua com o objetivo estratégico de tornar a Palestina uma terra sem palestinos”, destaca Ualid.
O presidente da FEPAL explica que o genocídio é uma política de Estado, que além de causar a morte, exporta a limpeza étnica às diásporas, gerando medo através de torturas, prisões em massa e violência sexual. Nesse sentido, além das vítimas diretas, entre os afetados também estão os palestinos que passavam por tratamentos médicos antes do momento genocidário – que foram interrompidos devido à destruição de hospitais –, e os que adquiriram novas doenças em decorrência da fome e sede, utilizadas como arma, e condição inabitável do território em que viviam.
Ao final da conferência, um apelo a uma comunicação dos fatos mais eficiente, à ampliação dos comitês de solidariedade e à compreensão de que todos têm o direito de ser contra o genocídio na Palestina. “Para deter o genocídio, você tem que mover multidões. Multidões se movem com generosidade, com discurso objetivo, com abrangência, com um abraço fraterno. O povo palestino precisa de cada homem e de cada mulher. Ele pode ser conservador, ele pode estar equivocado no seu voto, basta ele não ser genocida”, finaliza o presidente da FEPAL.
*Editado por Fernanda Alcântara