Educação do Campo
Assentamento Companheiro Keno no PR cria e inaugura Escola Municipal do Campo Maria Elídia
A inauguração desta escola marca um ciclo de esperança e de fortalecimento da luta por criação e construção de novas Escolas do Campo
Por Setor de Educação, MST no PR
Da Página do MST
Na última segunda-feira (15/09), o assentamento Companheiro Keno celebrou mais uma importante conquista na consolidação da Escola Municipal do Campo Maria Elídia, em Jacarezinho, no Norte Pioneiro do Paraná, com a inauguração das novas instalações. Até então, o espaço físico da escola era de salas de madeira construídas pela organização comunitária das famílias Sem Terra no ano de 2008, sem investimentos reais do Governo Estadual. Em sinal de luta pela educação do campo, bem como a luta pela terra, neste dia 15 de setembro, teremos o primeiro dia de aula da Escola Municipal do Campo Maria Elídia.
Uma conquista fruto da luta e organização coletiva do assentamento pela afirmação do direito fundamental do acesso à Educação, compreendida como elemento essencial para a construção do projeto da Reforma Agrária Popular. Há 17 anos, a Escola Itinerante Valmir Motta de Oliveira foi criada, com a ideia de suprir uma necessidade demandada pelas famílias que ali estavam acampadas construindo sua vida, os sonhos e a luta pela Reforma Agrária.
“A conquista e a inauguração da Escola Municipal do Campo no Assentamento Companheiro Keno expressam a continuidade da luta dos povos do campo pela educação nos territórios da Reforma Agrária. Simboliza um ciclo de retomada da Política Nacional de Educação do Campo, das Águas e das Florestas com o Novo Pronacampo que deve ser tensionado por nós Movimentos Sociais, Sindicais e Populares do Campo para um amplo processo de criação e construção de Escolas do Campo como forma de reafirmar a vivacidade do campo em detrimento ao intenso fechamento de escolas existentes no Paraná e no Brasil”, afirma Valter de Jesus Leite.
Historicamente, o MST enfrenta embates políticos diante da negação do acesso à educação pelo poder público, especialmente na educação básica e no ensino fundamental, que são municipalizados. Isso resulta em enfrentamentos com cada município. Alessandra Ribeiro, do setor de educação do MST no PR, ressalta a importante luta contra o fechamento das escolas do campo no estado: “Hoje é um dia histórico, dia de vitória. Em um momento em que mais estamos vendo nos últimos tempos são escolas do campo sendo fechadas. Estamos aqui para inaugurar uma nova escola do assentamento, motivo de muito orgulho, e essa conquista tem um peso enorme não apenas pela abertura de um prédio, a formação que nossas crianças e nossos jovens têm direito de estudar e sonhar e viver dignamente no campo”, afirma no discurso durante a inauguração.

Histórico da luta pela Escola Municipal do Campo Maria Elídia
“Escola Valmir Motta. Por uma nova educação. Seguimos nessa luta pra fazer transformação.”
Isso porque as famílias não desejavam que seus filhos continuassem a estudar nas escolas urbanas, uma vez que as crianças sofriam preconceitos e discriminações constantes pela condição de ser sem terra, assim como a falta de transporte adequado e seguro e tendo em vista a necessidade das especificidades socioculturais dos povos do campo perpassar o processo de ensino e aprendizagem.
Segundo Francielly Leite, a partir dessa demanda, “a comunidade se uniu para discutir quais seriam as possibilidades para a construção da escola, e com união e força de vontade do coletivo foi possível realizar esse sonho das famílias de construir a Escola Itinerante no acampamento”.
Desde outubro de 2008, a escola vem buscando desenvolver um trabalho educativo que atenda às necessidades destas famílias de acordo com os anseios e perspectivas das mesmas, articulada à concepção de educação do campo.
O processo de construção da Escola Municipal do Campo no Assentamento foi repleto de tensões. O primeiro protocolo de formalização do pedido de construção ocorreu no ano de 2012, com o início da obra em 2014. Nos anos seguintes, já em 2016, a obra teve uma parada, retornando em 2017, paralisando novamente até 2018. Neste ano, os trabalhos se deram por um período bem curto em comparação com os outros e então tiveram suas atividades suspensas até fevereiro de 2020. Após muitas reivindicações das famílias assentadas e acampadas, as obras reiniciaram em 2023 e em 2024 foram entregues as chaves da escola para a comunidade, mas ainda sem funcionar, com vários reparos e acabamentos a serem feitos, de acordo com depoimento da Coordenadora Pedagógica da Escola, Francielly Leite.
Durante esse período, foram realizadas várias reuniões com a Secretaria de Educação do Município, com o Prefeito de Jacarezinho, para que concluísse o que faltava para a escola funcionar, o qual se efetivou o PSS específico para as contratações dos professores e concluiu o restante da obra com contrapartida do município e emenda do ex-vereador Nilton Stein, havendo o apoio também do Conselho Municipal de Educação.
Para Francielly Leite, “agora as famílias estão esperançosas para efetivar a dualidade da escola municipal e estadual, quais já estão criadas, a municipal já com autorização de funcionamento e a estadual em tramitação. A luta das famílias continua para manter seus filhos e filhas estudando no campo e com condições dignas.”
Uma luta feita por várias mãos e de forma coletiva.
Educação do Campo, direito nosso dever do Estado e compromisso da comunidade!



Fotos: Gabriel – Comunicação da Prefeitura Municipal de Jacarezinho
**Editado por Fernanda Alcântara