Reforma Agrária

É falso que UFPE abriu vagas exclusivas para o MST

Confira apuração feita pela agência Lupa

UFPE. Foto: Reprodução

Da Lupa Jornalismo

Circula no Instagram um vídeo afirmando que a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) abriu 80 vagas exclusivas para filiados do Movimento Sem Terra (MST) cursarem Medicina. O post ainda sugere, nos primeiros minutos, que não existe um processo seletivo, apenas aprovação perante filiação e que o governo “fecha as portas” para quem ingressa na universidade via Enem. É falso. 

Por WhatsApp, leitores sugeriram que o conteúdo fosse analisado. Confira a seguir o trabalho de verificação da Lupa​: 

A UFPE abriu uma turma exclusiva para quem faz parte do MST. Ou seja, não tem que fazer cursinho, não tem que fazer Enem, não tem que se matar de estudar. Basta agora você entrar para o MST que vai virar médico […] O governo simplesmente fecha as portas para você e entrega a medicina de bandeja para um grupo escolhido politicamente 

– Transcrição de trecho do post que circula no Instagram

A Universidade Federal de Pernambuco não abriu vagas exclusivas para filiados do Movimento Sem Terra. Por meio do Programa Nacional de Educação para Áreas da Reforma Agrária, o Pronera, foi aberto um processo seletivo para o curso de Medicina destinado às pessoas que integram o Programa Nacional de Reforma Agrária (PNRA) e que residem em projetos de assentamentos reconhecidos pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Dessa forma, não são vagas exclusivas para o MST. 

Em nota encaminhada à Lupa, o Incra disse que a afirmação compartilhada nas redes não é verdadeira. “A informação não procede. A princípio, importa esclarecer que o Pronera é uma importante política de democratização do conhecimento, direcionada a um público diverso: jovens e adultos moradores de assentamentos criados ou reconhecidos pelo Incra […] além de pessoas atendidas pelo Programa Nacional de Crédito Fundiário (PNCF)”, afirmou o Instituto.

Pronera é uma política pública lançada em 1998 e tem como objetivo promover a educação para as populações das áreas de reforma agrária e territórios quilombolas, como trabalhadores rurais. A execução do programa se desenvolve através de parcerias com instituições de ensino públicas e privadas, governos estaduais e municipais. De lá pra cá, já foram contemplados 192 mil estudantes em 545 cursos em instituições como a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Instituto Federal Catarinense e Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).

Ao contrário das alegações iniciais do post, as vagas não são exclusivas para o MST e nem basta ser do movimento para “virar médico”. Para ocupar as vagas, é necessário passar por um processo seletivo que contempla uma prova de redação em língua portuguesa, além da avaliação do histórico escolar. Apesar de afirmar inicialmente que bastaria ser do MST, o autor do vídeo reconhece a existência da prova e da avaliação, que constituem o processo seletivo.

Segundo a UFPE afirmou em nota, a redação dissertativo-argumentativa tem peso 6 e é avaliada com base em critérios de adequação ao tema, organização das ideias e domínio da norma culta da língua portuguesa. Já a avaliação do histórico escolar do ensino médio possui peso 4 e a análise é realizada com base nas notas de língua portuguesa, biologia e química, sendo o cálculo uma média aritmética.

Ainda no comunicado, a Universidade Federal de Pernambuco explicou que as vagas abertas são de uma turma extra e, nesse sentido, “não afetam as vagas já oferecidas regularmente pela UFPE por meio do Sistema de Seleção Unificada (Sisu)”. O que contesta a afirmação desinformativa no vídeo que alega que “o governo fecha as portas para você” 

“Ainda, ressalta que, através de recursos oriundos do Incra, esse processo seletivo possibilita a parceria da UFPE com o Pronera a fim de que ambas as instituições continuem comprometidas com a inclusão e com a democratização do acesso ao ensino superior, na garantia de um processo seletivo justo e transparente para todos/as os/as candidatos/as”, disse a UFPE na nota.