Agronegócio
Sozinho, agro brasileiro emite mais que qualquer país da América do Sul
Brasil tem 238 milhões de cabeças de gado, contra 214 milhões de pessoas. Resultado disso é uma pecuária altamente emissora de metano, gás ainda mais potente para o aquecimento do planeta do que o dióxido de carbono

Por Carolina Dantas, Carolina Passos and Renata Hirota
Do Infoamazonia
O agronegócio brasileiro – agricultura e pecuária – não perde para nenhum país da América do Sul quando o assunto é “culpa climática”.
Em 2023, o setor emitiu 725 milhões de toneladas de carbono equivalente (CO₂e) — volume uma vez e meia maior do que todas as emissões da Argentina no mesmo ano (422 milhões de toneladas de CO₂e).
Isoladamente, o agro emite mais carbono equivalente do que qualquer país das Américas, exceto Estados Unidos, Canadá e México — esses dois últimos registraram valores muito próximos da nossa agricultura e pecuária: 800 e 777 milhões de toneladas de CO₂e, respectivamente.
Metano: mais potente
O dióxido de carbono não é o único gás do efeito estufa. Por isso, os cientistas usam a unidade CO₂e, que unifica os diferentes gases em um mesmo padrão — uma forma de medir o impacto total no aquecimento global.
Um dos principais gases emitidos pelo agro é o metano (CH₄), que é mais de 20 vezes mais potente que o dióxido de carbono. Grande parte dele é liberada durante a chamada fermentação entérica, o processo digestivo do gado em que microrganismos no estômago degradam a celulose dos vegetais ingeridos. De forma mais simples: o “arroto” e o “pum” da vaca e do boi.
O problema é que, no Brasil, temos mais gado do que gente: 238 milhões de cabeças, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), contra 214 milhões de pessoas. Por isso, a fermentação entérica representa mais da metade das emissões ligadas à agropecuária do país, totalizando 405 milhões de toneladas de CO₂e.

A agricultura também tem seu impacto, com emissões de um dos gases mais potentes liberados na atmosfera: o óxido nitroso (N₂O), cerca de 250 vezes mais potente que o CO₂. Ele é emitido pelo uso de fertilizantes nitrogenados, pelo manejo de dejetos animais e pela decomposição da matéria orgânica nos solos cultivados.
O agro, no entanto, não contribui apenas com suas emissões diretas ligadas ao gado e ao manejo do solo, mas também está associado à perda florestal. Na Amazônia Legal, a pecuária se destaca como principal vetor do desmatamento: sozinha, responde 75% dos registros em terras públicas do país. E esse impacto extra, causado pela derrubada da floresta, sequer entra na conta dos 725 milhões de toneladas atribuídos ao setor. A dimensão real do problema é ainda maior.
Quais dados utilizamos?
Utilizamos dados de emissões do Brasil, a partir do Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG), da rede Observatório do Clima, que disponibiliza informações por estado, município e setor (agropecuária, mudança de uso da terra – incluindo desmatamento –, energia, resíduos e indústria).
Para a América, recorremos ao Our World in Data, que utiliza dados do Global Carbon Project, iniciativa científica internacional criada em 2001 para estudar de forma integrada o ciclo global do carbono.