Reciclagem popular: V Feira da Reforma Agrária vai tratar todos os seus resíduos 

Em parceria com cooperativas de catadores de BH, o MST vai destinar corretamente todo o lixo gerado nos 3 dias de evento

Foto: Agata Morais e Matheus Teixeira

Por Flora Vilela
Da Pagina do MST

Em parceria com cooperativas de catadores de BH, o MST vai destinar corretamente todo o lixo gerado nos 3 dias de evento

Uma das novidades nesta 5ª edição da Feira Estadual da Reforma Agrária em Minas Gerais, foi a gestão dos resíduos produzidos durante o evento. Baseada em uma metodologia popular de reciclagem, a política aplicada no evento é de lixo zero. A expectativa é de que sejam devidamente destinados mais de 20 toneladas de descartes, resultado de todos os ambientes da feira. 

Além do estande da iniciativa na feira, o evento tem uma central de triagem de resíduos para onde é levado todo o lixo a fim de ser dividido de forma correta. A estrutura da feira conta ainda com diversas lixeiras separadas por categorias de triagem, contando com a colaboração do público do evento. 

“Nos fortalecemos com a parceria entre trabalhadores do campo e da cidade, os movimentos populares caminhando junto aos movimentos e as organizações catadores. Através dessa ponte, que o MST tem realizado, temos consolidado a relação campo-cidade, esse evento é um símbolo disso”, explica Priscilla Araújo, coordenadora do projeto Mãos Solidárias em Minas Gerais.

Para os catadores, o fortalecimento é mútuo, como afirma o diretor da Asmare, Getúlio Andrade “Para gente essa parceria com o MST é bem legal. Legal porque é uma coisa que engloba o cuidado com o meio ambiente, vocês com a alimentação e o cuidado da terra e nós, aqui na cidade, tomando conta do meio-ambiente através da retirada dos resíduos que a população descarta, às vezes correta, às vezes incorretamente. É muito gratificante essa junção”, Explica o catador˜, afirma.

A iniciativa conta com a parceria de várias entidades de reciclagem que atuam na capital mineira como: Cooperativa de Reciclagem dos Catadores da Rede de Economia Solidária (Cataunidos), Cooperativa Solidária dos Recicladores e Grupos Produtivos do Barreiro e Região (Coopersoli-Barreiro), a Cooperativa Central Rede Solidária dos Trabalhadores de Materiais Recicláveis de Minas Gerais (Redesol MG), Cooperativa Solidária de Trabalhadores e Grupos Produtivos da Região Leste (COOPESOL LESTE) e a Associação de Catadores de Papel, Papelão e Materiais Reaproveitáveis  (ASMARE).

“Essa iniciativa aumenta a visibilidade do nosso trabalho, mostramos que juntos a gente é bem mais forte. Além disso, a cozinha solidária que vem dessa parceria fez a diferença para nós, dando direito a todos trabalhadores um prato bonito na mesa. Então nós estamos muito felizes com a parceria.”, destaca Silvana Maria de Assis, da Coopersol. 

A ASMARE é a segunda mais antiga associação de catadores do Brasil, que se localiza no centro de Belo Horizonte. Lá se desenvolve a Cozinha Solidária Maria Brás, vinculada ao projeto Mãos Solidárias. Getúlio reforça como a cozinha tem contribuído na dignidade dos catadores, ao oferecer refeições solidárias duas vezes na semana.

“Uma parceria dessa, que traz uma alimentação de qualidade sem agrotóxico, vinda do campo e natural é ainda mais importante para quem realiza um trabalho pesado, como os catadores, é muito importante e nos alegra. Alimento é vida!” explica o diretor da ASMARE.

Na mesma linha, Vilma da Silva Estevam, presidenta e fundadora da Cataunidos,   considera que a parceria do MST com as cooperativas, principalmente na cozinha solidária, tem sido de suma importância, “Não tem como você pensar em trabalho digno sem pensar numa alimentação de qualidade e saudável. Essa parceria veio muito nesse sentido, de poder ajudar um pouco as pessoas que precisam de alimento”, afirma ela. 

Marislene Nogueira, integrante do Instituto Nenuca de Desenvolvimento Sustentável (INSEA), entende que “Ao realizar o preparo dos alimentos na Asmare, o MST propicia ainda que outros trabalhadores que não estão vinculados à associação possam ir lá também se alimentar, com uma melhora considerável na qualidade alimentar” 

Para a liderança dos catadores a ação na feira também é fundamental, isso porque os catadores, vivem em sua maioria com a renda que vem a partir da venda do material, que será incrementada com o que for produzido na feira.  “Esse evento representa ainda a inclusão dos catadores.” expõe Vilma.

Foto: Agata Morais e Matheus Teixeira

Uma transição agroecológica 

Em marcha para consolidar a transição agroecológica em todos os seus territórios, o MST decide construir esse modelo de gestão dos resíduos a partir da interpretação de que sistemas alimentares sustentáveis deveriam se preocupar, não só com a produção, agroindustrialização e distribuição dos alimentos, mas também com seu descarte adequado.

Uma equipe pedagógica, composta por militantes de todas as regiões do estado, tem trabalhado todos os dias da feira, conscientizando a quem comparece sobre o objetivo da iniciativa e a separação adequada. Neste sentido o evento se consolida também como uma atividade formativa.

“Para nós do MST é muito importante, porque a gente fecha o ciclo da produção do alimento. Também unimos a classe trabalhadora do campo, com o tema da alimentação saudável e abundante, e a classe trabalhadora da cidade, representada nos catadores, com o tema dos resíduos. É um ponto que nos une”, afirma Kallen Oliveira, da equipe pedagógica de reciclagem da Feira. 

Neste sentido, ao construir um evento de grandes proporções como são as feiras, o MST se responsabiliza em reduzir ao máximo os impactos ambientais gerados. Conectando a reciclagem popular, a agroecologia e a justiça socioambiental. E além disso, com a produção dos bioinsumos a partes do material orgânico, se fortalece no plantio saudável em larga escala.

“A terra adubada faz a diferença nesse alimento  saudável, que depois será destinado, em parte, para os próprios catadores. Essa parceria planta um universo de cuidado com a natureza, os rios  e cada pessoa. Nós todos temos direito a um ar mais puro, um mundo sustentável, onde não há rios poluídos   e as pessoas estão saudáveis.A gente vai caminhando juntos assim, MST e catadores de materiais recicláveis, numa caminhada para um projeto sustentável, onde várias mãos se abraçam” reforça Silvana .

Como surgiu a parceria 

A ideia de um centro de triagem de resíduos, durante os três dias de feira, vem após a experiência bem sucedida na Feira Nacional da Reforma Agrária, que aconteceu em maio na cidade de São Paulo (SP). Mas a parceria com os catadores aqui em Belo Horizonte já vem de longa data, como explica Priscilla. 

“Em 2023 convidamos os catadores para um encontro, no Dia do Meio Ambiente, no qual elas mesmas indicaram que fosse entre mulheres Sem Terra e mulheres catadoras, a imensa maioria de quem faz a gestão dos resíduos nas cidades. Dessa conversa saíram as ações conjuntas concretas que poderíamos realizar em parceria “, relembra Araujo.

Saiu daí a ideia de casar a agroecologia com a reciclagem como preservação do meio ambiente, através das iniciativas de alimentação: os bancos de alimentos e a cozinha solidária que está ativa desde julho de 2024 no galpão da ASMARE. Iniciativa a qual Nogueira reforça a importância.

“A feira do MST é uma oportunidade de juntar campo e cidade. A parceria que vem acontecendo entre MST e Asmare tem aproximado de forma concreta o campo e a cidade, beneficiando trabalhadores do campo e da cidade, por vezes em situação de vulnerabilidade social”, destaca Priscila. 

Para Silvana a cozinha é de “uma grandiosidade sem tamanho” uma vez que produz e distribuí “um alimento de qualidade, um alimento que ele vem puro, não tem agrotóxico ou química, e isso não tem preço”.

Como será a gestão de rejeitos 

Os rejeitos serão triados separando os recicláveis, destinados às associações e cooperativas de catadores parceiras no projeto e somados a catação dos associados incrementando sua renda; os orgânicos que serão convertidos em bioinsumos pela ação da Coopersol Leste e rejeitos, que de fato não tem como ser reaproveitados. 

“Acredito que não só o evento do MST, mas todos os eventos hoje deveriam ser pensados com sustentabilidade, destinando todo o resíduo gerado”, aponta Vilma 

Das 20 toneladas que o Movimento e as cooperativas esperam coletar, ao menos 60% é composto de materiais orgânicos, que, ao ser transformado em bioinsumos, um elemento essencial para a produção agroecológica em larga escala, fecham um ciclo virtuoso. 

“A parceria com as cooperativas de catadores fecha o ciclo da produção agroecológica, que respeita o meio ambiente, com relações justas de trabalho e que faz chegar esse alimento à cidade, para quem trabalha cotidianamente para que tenhamos cada vez menos resíduos e defende o meio-ambiente.”, explica Priscila Araújo.

*Editado Por Agatha Azevedo