Intercâmbio
Vivência na Coopercampra reforça autogestão e a produção camponesa no campo mineiro
Experiência integra formação técnica e política de cooperados do MST e reafirma o compromisso com a soberania alimentar e a economia solidária

Por Ali Nacif
Da Página do MST
Entre os meses de setembro a outubro, técnicos da Regional Metropolitana – Coopertrac, junto aos integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), participaram de uma vivência na Coopercampra em Uberlândia, cooperativa com 10 anos de história, nascida da força coletiva dos camponeses do assentamento Emiliano Zapata, em Minas Gerais.
Gestada por Flaviana e Juarez, a Coopercampra é fruto direto da organização popular e da necessidade de fortalecer a comercialização e o beneficiamento da produção camponesa. Hoje, a cooperativa se destaca na venda de ovos caipiras, frutas, verduras, legumes e produtos minimamente processados, abastecendo programas institucionais como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), além de compor cestas agroecológicas que circulam na região.
Produção camponesa e economia solidária
Atualmente, a cooperativa reúne 62 cooperados de três assentamentos, responsáveis pela produção de cerca de 30 variedades de alimentos saudáveis, cultivados com base nos princípios da agroecologia.
Entre as produções de destaque, estão os ovos caipiras, com seis cooperados entregando 800 dúzias por semana. A crescente demanda que já ultrapassa mil dúzias impulsiona a expansão da atividade e o envolvimento de novas famílias camponesas.
A Coopercampra demonstra, na prática, a força da cooperação e da autogestão camponesa, em que a produção de alimentos é também um ato político: produzir é resistir, e resistir é organizar-se coletivamente.
Fluxo de trabalho e beneficiamento dos produtos


Durante a vivência, o grupo acompanhou de perto o funcionamento da agroindústria, observando o fluxo de recebimento, pesagem e armazenamento dos produtos, seguindo protocolos rigorosos de higiene, rastreabilidade e controle de qualidade.
As visitas aos aviários de criação caipira mostraram diferentes modelos produtivos, desde estruturas alternativas até sistemas automatizados, todos em conformidade com a legislação sanitária.
“A vivência na Coopercampra foi inspiradora, né? O que mais marcou ali é saber que existem várias formas de trabalho coletivo, onde as pessoas produzem em seus próprios lotes e, coletivamente, eles se organizam para comercializar, para beneficiar, para melhorar a qualidade desses produtos. Então, mesmo cada família produzindo em seu lote, têm apoio uns dos outros, e a cooperativa presta total assistência sempre que eles precisam. A cooperativa é um elo de ligação entre essas famílias e faz com que permanecerem unidas no mesmo objetivo”, comenta Kellen Amaral, participante da vivência.
Os participantes acompanharam o beneficiamento dos ovos, passando por etapas de seleção, ovoscopia, pesagem e expedição, com foco na qualidade e no prazo reduzido de prateleira, que garante frescor e confiabilidade ao consumidor.
Formação e intercâmbio de saberes

Além das atividades práticas, a vivência também teve caráter formativo e pedagógico. Produtores da Coopercampra e de outras localidades participaram de um curso de classificação de vegetais, promovido pela Emater e pelo CEASA de Uberlândia.
A formação foi encerrada com um plantio simbólico de árvores, gesto de resistência e cuidado com a terra, reafirmando a relação simbiótica entre o trabalho camponês e a natureza.
“As experiências de intercâmbio são importantes ferramentas no processo de construção do conhecimento e das práticas agroecológicas camponesas. A vivência na Coopercampra fortalece a cooperação, possibilitando a troca de experiências nos processos de produção, beneficiamento e comercialização de alimentos agroecológicos, como hortaliças, frutas e ovos. Essas trocas potencializam a organização e o planejamento produtivo das famílias assentadas e acampadas da Região Metropolitana”, explica Viktor, do setor de Produção do MST.
Gestão e autogestão camponesa

A dimensão organizativa também foi central no processo. O grupo conheceu o sistema de gestão da cooperativa, incluindo o uso de softwares operacionais e a aplicação dos Procedimentos Operacionais Padrão (POP), exigidos pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA).
Essas ferramentas asseguram a transparência, a qualidade e o controle sanitário da produção, consolidando a autogestão como eixo estratégico do cooperativismo camponês.
Repasse e continuidade
O próximo passo será o repasse coletivo da vivência para os demais coletivos de trabalho nos acampamentos e assentamentos da região. O objetivo é compartilhar os aprendizados, ampliar a formação e fortalecer o trabalho de base, princípio fundamental das cooperativas ligadas ao MST.
Cada vivência desse tipo reafirma que a formação política e técnica é parte fundamental do fazer camponês, e que o desenvolvimento da produção anda lado a lado com a construção de consciência e solidariedade de classe. Pois, cada vivência é uma semente de transformação: um gesto de luta, aprendizado e resistência plantado nas terras da Reforma Agrária Popular.
*Editado por Solange Engelmann



