Internacionalismo
A Cúpula das Verdades: a Plenária Internacionalista e o enfrentamento global ao imperialismo
A plenária encerrou reafirmando que o fortalecimento das articulações internacionais é hoje uma das principais estratégias para enfrentar a ofensiva imperialista e responder à crise ambiental e social em curso

Por Nadson Ayres e Nelson Francisco
Da Página do MST
A Plenária Internacional dos Movimentos Populares, realizada nesta sexta-feira (14), em Belém, Pará, tornou-se o coração pulsante da luta global antimperialista, materializando o que já ficou conhecida como a Cúpula das Verdades. Este espaço coletivo unitário, construído por movimentos populares de mais de 62 países, tem como objetivo central enfrentar, denunciar e propor caminhos diante da crise ambiental, social e civilizatória que é produzida diretamente pelo capitalismo.
A Cúpula, nascida de baixo, das organizações que vivem na pele os impactos do saque aos bens comuns, contrasta drasticamente com os fóruns oficiais, provando que a articulação internacionalista dos povos é a única forma de resistir à ofensiva imperialista que avança sobre territórios e vidas. O símbolo dessa luta para o MST se materializa em suas brigadas internacionalistas e também está estampado em sua simbologia, representada pela a ponta do facão que atravessa o mapa, marcando a resistência que brota da terra e rompe fronteiras.

A importância estratégica deste encontro foi fortemente demarcada por Messilene Gorete, dirigente nacional do MST, que caracterizou a plenária como um espaço de articulação de todas as forças populares a nível internacional. Segundo ela, o principal objetivo é “demonstrar a força que tem o movimento popular frente à resistência no tema da crise ambiental e às mudanças climáticas”. Ela enfatizou que este é um ambiente onde se encontram “movimentos populares a nível nacional e internacional, justamente no momento em que o mundo atravessa uma crise política e econômica do capital, que se manifesta sobretudo na devastação ambiental”.
A leitura da crise feita pelos movimentos populares é clara: a devastação ambiental é o reflexo da apropriação dos bens comuns pelo capitalismo, gerando uma crise ambiental profunda onde quem sofre são os povos. Kaira Reece, da CUT/CSA, do Panamá, ecoou essa necessidade urgente de integração, reafirmando a defesa da democracia e a luta pelos povos, colocando “no centro a vida das pessoas e a necessidade urgente de integração entre os que resistem nos territórios”. Delmah, da Vía Campesina no Zimbábue, trouxe uma perspectiva poderosa sobre o potencial intrínseco de transformação dos movimentos: “o poder está dentro de nós e podemos transformar tudo”.

A Plenária Internacional também se concentrou em denunciar a ofensiva imperialista, que utiliza a guerra como instrumento de opressão para obter mais riquezas e seguir dominando os povos. Missilene Gorete detalhou essa ofensiva, mencionando a política genocida de extermínio de Israel e dos Estados Unidos contra o povo palestino, que visa a “apropriação dos territórios dos povo palestino para seguir acumulando”. Ela também apontou a ofensiva norte-americana na América Latina, especialmente na Venezuela, cujo objetivo “muito claro que é a tomada político na Venezuela para dominar uma das maiores fontes de petróleo do mundo, a terceira reserva de petróleo do mundo”.
A delegação da Venezuela, com mais de 120 representantes, contribuiu para o debate trazendo a experiência de um povo que segue em luta para construir um projeto de superação do capitalismo, mesmo sob constantes agressões imperialistas. Rodrigo Sune, representante da caravana venezuelana, reforçou que o cenário geopolítico é crítico e que a crise ambiental tem “nome e sobrenome, modo de produção capitalista”. Para ele, é justamente a lógica imperialista de saque e guerra que aprofunda a crise ambiental e ameaça a sobrevivência da humanidade, exigindo que os movimentos populares ampliem a articulação e denunciem “as falsas soluções apresentadas pelo capital”.
Tamará Varas, da Juventude da Via Campesina Internacional no comitê de coordenação internacional, vindo dos Estados Unidos, trouxe contribuições essenciais para o debate sobre as “verdades reais”. Ele refletiu sobre as falsas soluções discutidas em simultâneo à COP 30, afirmando que as verdadeiras soluções se encontram na Agroecologia, na Reforma Agrária Popular e no trabalho na Terra todos os dias. O jovem camponês exemplificou como é afetado pela dívida de mais de 400.000 para ter acesso à Terra nos Estados Unidos, o que, segundo ele, significa que a soberania é “muito pequenina”.
A presença de Tamará Vara dos Estados Unidos, um país onde, segundo ele, “as verdades estão sendo escondidas pelo governo fascista que está no poder”, é crucial para que os colegas entendam o sentido do internacionalismo. Ele vê como essencial a troca de informações e conhecimentos com o MST para compartilhar essas verdades reais quando voltar para casa, buscando conscientização para realmente construir a soberania. Ele afirmou que o fato de tantas pessoas estarem presentes mostra que é o momento para conhecer quais são as verdades, e que é importante partilhar diferentes ideias sobre “essas verdades em conjunto, todos juntos”.

Missilene Gorete reforçou que a resistência e a vitória sobre a ofensiva do capital só são possíveis com “uma articulação de todos os povos do mundo”, em especial os povos do chamado Sul Global, que historicamente sofrem as maiores opressões. Ela citou a desigualdade social, a pobreza, a violência, e, sobretudo, as principais mudanças climáticas manifestadas em catástrofes ambientais, que atingem os povos das periferias, os povos negros e os povos do campo. Essa realidade torna a unidade dos povos do Sul Global uma necessidade de fato.
Ataque imperialista à Venezuela foi lembrado em Plenária



