Mesa da Sabedoria

Banquetaço na Cúpula dos Povos celebra a luta pela Reforma Agrária Popular

Iniciativa usou a comida como ato político para denunciar o desmonte de políticas públicas e promover a Soberania Alimentar contra o modelo do agronegócio

Foto: Breno Thomé Ortega

Por Nadson Ayres
Da Página do MST

Neste domingo (16), a Cúpula dos Povos encerrou suas atividades com um poderoso instrumento de luta e solidariedade: o Banquetaço, uma ação promovida na Praça da República, em Belém, que transformou a partilha de alimentos em um ato político e gastronômico. A iniciativa surgiu como resposta direta ao ataque às políticas públicas de apoio à agricultura familiar, como o PAA (Programa de Aquisição de Alimentos), extintas nos períodos anteriores em que o avanço da pandemia coincidiu com o desmonte das políticas de compra institucional. O Banquetaço simboliza, portanto, a urgência de fortalecer a agricultura familiar e enfrentar o modelo destrutivo do agronegócio.

O ato representou uma demonstração prática da força produtiva e organizativa dos movimentos sociais, sendo precedido pela “maior compra institucional dos últimos tempos do norte do Brasil” realizada pela Cúpula dos Povos, com alimentos que garantiram a alimentação dos mais de 25.000 delegados presentes. Essa mesma produção possibilitou o Banquetaço, um gesto de nobreza frente à cidade de Belém, convidando a população a “sentar à mesa comum e compartilhar o alimento”. Segundo Beatriz Luz, do setor de formação do MST no Pará, o banquete foi construído “com mãos que lutam, um banquete construído por mulheres que se organizam” e representou a “diversidade da cultura alimentar da nossa região”.

Foto: Breno Thomé Ortega

A essência do Banquetaço reside na defesa da Reforma Agrária Popular e na afirmação da Soberania Alimentar. Pablo Neri, da direção nacional do MST, contextualizou a finalidade da ação, destacando que os alimentos servidos vieram dos territórios, eram “sem veneno” e fruto de “relações de produção muito mais humanas, comunitárias, sociais”. Ele enfatizou que o ato é uma forma lúdica, gastronômica e cooperativa de luta, provando que “o que a gente fez na praça hoje foi demonstrar isso na prática, onde a alimentação é um momento sagrado, um momento de comunhão e partilha, mas é também um momento de luta, reflexão e avaliação do mundo que queremos construir”.

A presença do MST foi multidimensional, garantindo que a Reforma Agrária Popular estivesse presente em cada etapa do Banquetaço. O Movimento esteve presente na produção, fornecendo produtos essenciais como macaxeira, pupunha, leite e pescado, e também na logística da alimentação. A culinária solidária foi construída por equipes de cozinha que vieram de todo o Brasil, fazendo questão de elaborar “receitas regionais, bolos e frutas, com o tempero do Pará, nessa tarde”.

O Banquetaço foi uma celebração da Agroecologia e da Soberania Alimentar. Os alimentos compartilhavam a mesa comum, cumprindo um ato político que, de forma lúdica e cooperativa, confrontou diretamente “o agronegócio enfrentando a gourmetização e a padronização da nossa alimentação”. A iniciativa foi resultado da aliança entre diversas frentes, como o MTST na Cozinha Solidária, a Articulação Paraense de Agroecologia (APA), o Movimento Camponês Popular (MCP) e o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA).

A essência da luta pelo direito à terra e aos territórios foi levada à praça pública. Pablo Neri deixou claro que o Banquetaço é uma forma de luta para dizer que a Reforma Agrária, a demarcação de terras indígenas e o reconhecimento dos territórios são “necessários pra gente ter uma alimentação saudável com alimentos que contribuem pro equilíbrio ecológico do planeta”. Em um momento de crise climática, o ato demonstrou que é possível “discutir clima saboreando os temperos regionais”.

O evento contou com uma forte presença cultural, unindo a gastronomia camponesa à arte paraense. O Banquetaço teve a participação de dois grandes artistas do estado: Nilson Chaves, que “encanta nosso alimento com a música Saborçaí”, e Clauber Martins, artista de Marabá do sudeste do Pará. Segundo Beatriz Luz, o banquete celebrou a presença de cerca de 30.000 pessoas mobilizadas, organizadas em luta e resistência, que disseram em alto e bom som que o povo tem um projeto de sociedade que busca a dignidade e a soberania alimentar.

O Banquetaço, portanto, não foi apenas uma refeição, mas o encerramento simbólico da Cúpula dos Povos com um gesto de cooperação e nobreza. Foi um ato de “fortalecimento da nossa luta” e de “convencimento da sociedade” sobre a necessidade de apoiar a agricultura familiar e os sistemas alimentares que são menos prejudiciais, demonstrando que a solução para a crise ambiental está na terra livre e na alimentação saudável.

*Editado por Fernanda Alcântara