Conferência espera 10 mil para defender novo modelo de desenvolvimento

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Conferência espera 10 mil para defender novo modelo de desenvolvimento

19/11/2004

Por Maurício Hashizume
Fonte: Agência Carta Maior

Uma multidão de 10 mil militantes ávidas por mudanças no rumo do Brasil promete esquentar ainda mais o clima de altas temperaturas que costumeiramente assola a capital federal todo fim de ano. Em pleno período de turbulências no alto escalão que culminaram com demissões e substiuições em cargos importantes da equipe econômica, o governo federal terá de encarar nada menos que o maior encontro de entidadas ligadas ao campo na história do País.

Reunidas no Fórum Nacional pela Reforma Agrária e Justiça no Campo (FNRA), mais de 40 entidades – entre movimentos sociais, agrupamentos sindicais, organizações não-governamentais (ONGs) já confirmaram e órgãos ligados à Igreja Católica – participarão, a partir da próxima segunda-feira (22), da I Conferência Nacional da Terra da Água.

A Conferência não será na opinião de Dom Tomás Balduíno, presidente da Comissão Pastoral da Terra (CPT), apenas uma reunião para tratar dos temas da terra e da água. “Esses elementos simbolizam a mudança do modelo de desenvolvimento que está aí”, sinaliza. O fundamento do inédito encontro é contribuir para o processo democrático brasileiro em defesa de um novo modelo em que prevaleça a “partilha da terra para a partilha do pão”, explica o religioso. “Não se trata de pressão pessoal sobre o governo. Não é oposição. Trata-se de mais um momento de reivindicação dentro do espaço que os movimentos populares já conquistaram”.

Balduíno lembra que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, do alto de seu gabinete no Palácio do Planalto, dizia que os sem terra não queriam terra, mas eram movidos por interesses políticos. “É justamente isso que queremos, a Política da vida, com ‘P‘ maiúsculo, que busca a transformação social, política e econômica”.

A expectativa do presidente da CPT é que a Conferência mostre o retrato da terra hoje e denuncie “desvios que querem se afirmar”. O agronegócio, analisa, está “arrebentando tudo”, provocando “estragos na terra e nos homens e mulheres da terra”, numa adaptação “mais voraz, tecnificada e eficaz” do mesmo modelo de produção do Brasil Colônia.

Um dos principais articuladores do Fórum Nacional pela Reforma Agrária e Justiça no Campo (FNRA), Gilberto Portes salienta que o conjunto de entidades cogitaram fazer uma mobilização dessa natureza já no final de 2003, mas a conjuntura política fez os dirigentes decidirem pela realização da marcha de Goiânia para Brasília pela conclusão do Plano Nacional da Reforma Agrária (PNRA). Em 2004, no entanto, a escolha da questão da água como tema da Campanha da Fraternidade da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e a série de mobilizações do Movimento dos Atingidos por Barragem (MAB) fizeram amadurecer a idéia da Conferência, que se estende até a próxima quinta-feira (25).

Cinco pontos

Os contornos políticos colocados por Dom Tomás Balduíno ficaram ainda mais claros na definição dos cinco pontos centrais da Conferência do ponto de vista apresentado por João Paulo Rodrigues, membro da coordenação nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), durante coletiva de imprensa do lançamento do encontro.

No primeiro dos pontos, Rodrigues atribui à Conferência um caráter histórico. “Muitos movimentos camponeses foram derrotados porque não conseguiram se unir. É um marco”, observa. Em seguida, o coordenador do MST destaca que o objetivo central do encontro é entender quais são os modelos de desenvolvimento para o campo e para o país defendidos pelo governo Lula.

A demonstração para a sociedade de que os movimentos camponeses estão unidos, “assim como existem outros grupos que conseguiram se unir em torno do agronegócio”, é o terceiro ponto destacado pelo líder camponês. O quarto item versa sobre a importância da água e da biodiversidade para o futuro do país e da Humanidade. E o último dos pontos, certamente um dos mais importantes para as organizações que estarão reunidas na Conferência, consiste na preparação da base da militância para o ano de 2005. “O ano que vem promete”, prevê Rodrigues. Razões, enumera, não faltam: não é um ano de eleições e os camponeses estarão mais prontos do que nunca para defender alternativas para o País, tanto por meio de manifestações e ocupações como pela produção cada vez mais signficitiva da agricultura familiar.