Posição do MST sobre os conflitos no Oriente Médio

Diante da grave situação do conflito do Oriente Médio, envolvendo o Estado de Israel e o Povo Palestino, e da repercussão internacional da presença de um dirigente do MST – o companheiro Mário Lill – e de outros dirigentes da Via Campesina junto aos dirigentes da Autoridade Nacional Palestina, esclarecemos:

Sobre a viagem:

1. Desde sua origem, o MST tem priorizado uma política de solidariedade e de intercâmbio de conhecimentos e experiências com todos os povos. Já em anos anteriores, com esses objetivos, o MST enviou delegações à Israel onde, graças a solidariedade daquele povo, obtivemos significativo aprendizado em projetos de irrigações para regiões semi-áridas.
2. A visita à região, decidida durante o 2º Fórum Social Mundial, foi marcada para coincidir com o Dia da Terra, celebrado pelos palestinos. A delegação da Via Campesina, composta por membros de diversas organizações, de diferentes países, foi ao Oriente Médio com o objetivo de prestar solidariedade aos camponeses de Israel e da Palestina.
3. A visita coincidiu com o agravamento do conflito, numa escalada de violência sem precedentes, promovido pelo exército de Israel contra o povo Palestino. Violência que tem como principal causa, a continuada e crescente ocupação israelense das terras da Cisjordânia e da faixa de Gaza.
4. Diante dos fatos de que o povo palestino está sendo vítima de crimes contra a humanidade não podíamos ser coniventes, calando-nos ou repetir a covarde postura da maioria dos governos – inclusive o do Brasil – frente a política militarista e de violação dos Direitos Humanos promovida pelo governo de Ariel Sharon, de Israel, com a complacência e apoio ilimitado do presidente George W. Bush, dos Estados Unidos da América. Por isso, decidimos, entre todos os membros da delegação da Via Campesina, prestar nossa solidariedade ao povo palestino, juntado-nos com o grupo de dirigentes da Autoridade Nacional Palestina, cercados pelos tanques de guerra do governo israelense.

Sobre o Conflito:

5. Repudiamos a política do governo de Ariel Sharon que, traindo as tradições humanistas judaicas de respeito a vida e a dignidade de qualquer ser humano, tem semeado desespero e morte tanto entre os palestinos com entre os israelenses, como denunciou o judeu Sérgio Yahni – mantido preso por recusar-se a reingressar no exército de Israel para reprimir os palestinos.
6. Repudiamos a política governo de George W. Bush que, aproveitando-se dos acontecimentos de 11 de setembro de 2001, promove, com a força de suas armas, uma ofensiva imperialista, gerando insegurança e ameaças contra todos os povos que se opõe aos seus interesses.
7. Repudiamos a tímida e hesitante política da maioria dos países – principalmente dos governos europeus – frente ao genocídio que o governo de Ariel Sharon está promovendo contra a Nação Palestina e frente a ofensiva militarista dos EUA que praticamente instaurou um Estado de Sítio planetário.

8. Apoiamos e nos solidarizamos com o povo palestino que está sendo vítima de um verdadeiro genocídio na sua luta contra a ocupação do seu território, promovida pelo governo de Israel e por seu direito a um Estado livre e soberano.

9. Apoiamos e nos solidarizamos com o povo israelense, também vítima da violência gerada pela insana agressão, opressão e humilhação que o exército do seu país vem promovendo contra a Nação Palestina. Apoiamos a existência do Estado de Israel, respeitando as fronteiras anteriores à guerra de 1967.

10. Apoiamos e nos solidarizamos com as manifestações populares, de israelenses e palestinos, cada vez maiores, que buscam a paz da região, na construção de uma convivência pacífica entre os dois povos, baseado no respeito mútuo. Nossa solidariedade e apoio, de modo especial, à luta dos oficiais e soldados israelenses que se recusam a integrar o exército para reprimir o povo palestino em seu território.

11. Defendemos o imediato fim da ofensiva militar do exército israelense em território palestino, recuando às fronteiras existentes antes da guerra de 1967, e a imediata implementação das Resoluções 242 e 243 da ONU, assegurando a existência de dois Estados livre e soberanos.

12. Não acreditamos que a força das armas trará a paz. Acreditamos que ela será resultante do mútuo respeito e da justiça. Acima de tudo, acreditamos, como escreveu o israelense Amos Oz, que os povos que lutam por sua liberdade, por sua terra e por sua vida serão vitoriosos, sempre!

Direção Nacional do MST
São Paulo, 8 de abril de 2002.