E a mídia foi conferir a Reforma Agrária de FHC…

Há tempos, o MST e os vários movimentos de luta do campo vêm denunciando que a Reforma Agrária do governo FHC é uma farsa. Mas somente agora, já no fim do governo FHC, a imprensa presta-se a denunciar isso. Assim, em abril, o jornal Folha de S. Paulo fez uma série de reportagens desmascarando a Reforma Agrária de FHC.

A maracutaia é tão mal feita que há gritantes diferenças entre os números apresentados pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário – MDA – e as superintendências do Incra. Apenas no ano passado, o MDA aumentou, no seu balanço anual, em 14% os números apresentados pelos Incras estaduais. Em Espírito Santo, o aumento foi de 67% e em Sergipe, de 68%.

Em 2000, a maquiagem foi ainda maior, atingindo o índice de 48% do total apresentado pelo MDA. Enquanto o Ministro alardeou que havia assentado 108.986 famílias, o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) constatou que foram assentadas apenas 36.061 famílias. Se creditarmos como verdade que o programa Banco da Terra assentou outras 20 mil famílias – uma verdade que não resistiria a mais uma curiosidade de um grande jornal que se dispusesse a fazer uma investigação séria – o total de famílias assentadas subiria para 56.061 famílias. Ainda assim faltariam 52.925 famílias para chegarmos ao número apresentado pelo Jungmann.

Famílias que se cadastraram no correio para serem beneficiadas pelo programa de Reforma Agrária nunca receberam terra, mas seus nomes serviram para inflar os números de famílias já assentadas.

Tanta mentira e tanta incompetência na construção de uma realidade fictícia não teria se sustentado por muito tempo sem a complacência dos grandes meios de comunicação do país. Durante todo o governo FHC a mídia teve comportamento chapa branca.

Subserviente, ela simplesmente reproduzia os discursos do governo e não dava nenhum espaço aos que se contrapunham a essa versão. Ávida por verbas publicitárias, a mídia capitalista deu respaldo incondicional ao governo FHC. Assim foi com todos os casos de corrupção – e não foram poucos – ocorridos nesse governo; com os programas de privatizações; com o desmantelamento dos serviços públicos; com o aumento da exclusão social e o crescente empobrecimento da população.

Um governo que, de acordo com o jurista Fábio Konder Comparato, deveria comparecer frente a um júri popular para ser responsabilizado pela sua atuação. O próprio governo FHC está consciente de sua péssima atuação. Não é por nada que busca, a todo custo, criar mecanismos – como o cargo de senador vitalício para ex-presidentes da República e/ou que ex-governantes somente possam ser julgados pelo Supremo Tribunal Federal – que lhe garanta a impunidade assim que deixar o governo. Deve estar assustado com as prisões dos ex-presidentes da Venezuela (Carlos Andres Perez) e da Argentina (Carlos Menen) ou com a fuga dos ex-presidentes Carlos Salina ( México) e Fujimori (Peru). Todos apresentados pelo capital internacional como os grandes governantes da América Latina que implementaram a política neoliberal.

Sabendo da importância da mídia, Jungmann não poupou recursos financeiros para divulgar sua Reforma Agrária virtual. Somente no ano passado o gasto com a propaganda aumentou em 31%, atingindo a soma de R$ 8,63 milhões. Já em 2000, comparando com o ano anterior, o aumento com a publicidade foi de 66%. Quanto maior a mentira, maior o esforço para fazê-la aparecer como verdade.

Os parlamentares da oposição, depois das denúncias feitas pela Folha de S. Paulo, estão tomando providências para responsabilizar judicialmente o ex-ministro Jungmann, exigindo que seja devolvido aos cofres público o dinheiro gasto com a propaganda enganosa.

Já é um começo. Mas essas medidas deveriam ser estendidas para responsabilizar também o Presidente da República. Afinal, ele sempre foi alertado que seu ministro mentia e não tomou nenhuma providência. O Jungmann ao menos teve a capacidade de inverter os papéis do príncipe com o de bobo da corte.

Breves

Representante do MST retorna ao Brasil

O militante do MST, Mário Lill, que estava no QG de Arafat em Ramallah, desde 31 de março, retornou ao Brasil em 24 de abril. Além de Mário Lill e Paul Nicholson, da Via Campesina, mais 4 franceses deixaram o prédio. Outros 12 pacifistas de diversos países entraram no prédio para prestar solidariedade. Mário Lill destacou que o objetivo do grupo que saiu do prédio onde Arafat está confinado é buscar soluções pacíficas para a região.

Audiência entre MST e MDA será na próxima semana

O MST está agendando uma audiência com o Ministro do Desenvolvimento Agrário, José Abraão, para a próxima semana. Na pauta, serão discutidos o assentamento imediato das 100 mil famílias acampadas, assistência em alimentação para estas famílias, aumento da infra-estrutura do Incra para vistorias e renegociação das dívidas de Procera e Pronaf (A).

Eldorado dos Carajás: juíza se afasta do caso, mas data do julgamento é mantida

A juíza Eva do Amaral Coelho afastou-se do caso Eldorado dos Carajás, em 9 de maio. Apesar do afastamento da juíza, as datas das sessões continuam mantidas pelo TJE, para os dias 14 e 27 de maio e 10 de junho. O juiz auxiliar do caso, Roberto Moura, presidirá o julgamento. A presidente do TJE, Climenié Pontes, alegou que Roberto Moura tem todas as condições de assumir os trabalhos, já que acompanhou o processo.

Em 17 de abril de 1996, 19 trabalhadores rurais sem terra foram brutalmente assassinados por políciais militares durante uma mobilização que realizavam em uma rodovia, em Eldorado dos Carajás. Até hoje os culpados não foram punidos. Para saber mais sobre o caso, acesse nossa página na internet.

Erramos

Na edição anterior do MST Informa (nº 13, de 19 de abril de 2002), havíamos escrito governo israelita, quando na verdade é governo israelense, já que israelita é a pessoa que professa a religião judaica e o Estado de Israel é uma entidade, portanto seu governo é israelense.
Pedimos desculpas aos israelitas que não apóiam a política do atual governo do Estado de Israel e agradecemos a Paulo Demeter, que nos enviou mensagem orientando-nos.