Curso de Agronomia é retomado em Sergipe

O curso de Agronomia para assentados e filhos de assentados em Sergipe será reiniciado. As aulas foram suspensas em fevereiro de 2004 por meio de ação judicial de um grupo de agrônomos ligado à Associação dos Engenheiros Agrônomos de Sergipe (Aease). A decisão favorável à manutenção do curso foi tomada em 30 de abril. O curso, onde estudam 60 trabalhadores rurais do Nordeste, é o primeiro do Brasil em nível superior para educandos da Reforma Agrária.

As aulas serão retomadas no próximo 17 de maio, em período integral, de segunda á s ábado. O curso terá duração de 4 anos, sendo que a cada 2 meses e meio há um intervalo de 3 meses em que os educandos retornam para seus assentamentos e realizam atividades de campo.

O curso é resultado de uma parceria da UFS (Universidade Federal de Sergipe), Incra, por meio do Pronera (Programa Nacional de Educação da Reforma Agrária), do governo federal e MST. Foi iniciado em 2 fevereiro deste ano, mas ao final do mesmo mês, houve a suspensão das aulas, por meio da ação judicial.

A ação civil pública gerou uma liminar em primeira instância que suspendeu o curso. O Movimento entrou com recurso e o desembargador federal Marcelo Navarro, da 5ª Região de Justiça Federal, em Recife (PE) deu decisão favorável à manutenção do curso . Os agrônomos ligados à Aease alegavam que o curso era ilegal e criticavam a forma de seleção restrita aos assentados da Reforma
Agrária, que a política de cotas era inconstitucional perante o princípio da igualdade.

O Movimento defendeu que em toda a história de desigualdade, os Sem Terra nunca tiveram as mesmas condições, e que não poderiam competir em condições de igualdade com os demais candidatos ao vestibular da Universidade. Demonstraram também, a legitimidade do curso pela parceria com o governo federal, por meio do Pronera.

Para Gileno Damacena, assentado, educando do curso e membro da direção estadual do MST, o projeto está dentro de uma antiga luta do movimento de ocupar áreas do conhecimento restritas a classe dominante. “Ao invés de ficarmos apenas trazendo profissionais de fora, estamos possibilitando que famílias assentadas que vivem nossa realidade tenham acesso a conhecimentos
científicos e construam novos conhecimentos dentro da organização. Lutando assim por um outro modelo agrícola includente, voltado para a agricultura familiar e a geração de trabalho, renda e dignidade às pessoas.”

Parte da formação será no Centro de Capacitação Canudos, no assentamento Moacir Vanderlei, no município de São Cristóvão, povoado de Quiçamã, onde os Sem Terra de 6 estados do Nordeste ficam alojados. As demais aulas serão no campus da UFS. O curso tem as mesmas características – corpo docente, conteúdo, carga horária – da graduação oferecida pela Universidade, com a especificidade da coordenação conjunta com o MST e o empenho na formação política e ideológica junto á técnica e científica.

Givaldo Hipólito Dantas, agrônomo, professor e coordenador do curso pela UFS ressalta que é uma obrigação da Universidade, como instituição pública, cumprir sua função social. Ele explica que “o curso é uma tentativa de suprir a clara carência destes profissionais e de assistência técnica dos governos, além de possibilitar ao Movimento a formação de profissionais com conhecimento
científico, técnico e político, mas, dedicados à agricultura familiar.”