Caros amigos e amigas do MST

Todos vocês acompanharam pela imprensa nossa Jornada de Lutas, que acabou sendo, involutariamente, batizada de abril vermelho. A Jornada mobilizou milhares de trabalhadores Sem Terra em todo país, que realizaram diversos tipos de atividades, como caminhadas, atos públicos e mais de 140 ocupações de terra.

Porque fizemos essa jornada? Por um motivo óbvio, o papel do MST como movimento social é seguir paciente e permanentemente organizando os pobres do campo, para que se mobilizem por seus direitos. Sem mobilização social não há e nunca houve nenhuma conquista ou mudança, nem no Brasil e nem em toda a história da humanidade.

O que nos choca é o comportamento da chamada “grande imprensa brasileira”. Transformou nossa Jornada em coisa de outro mundo. Mas nós entendemos esta posição. No Brasil cerca de 80% de todas as notícias são monopolizadas por apenas sete grandes grupos. Estes grupos defendem, a todo custo, os privilégios econômicos e políticos de uma minoria da sociedade brasileira. Há várias teses e estudos no país que demonstram como a grande imprensa se comporta como um partido político da classe dominante, fazendo luta ideológica para hegemonizar a sociedade com suas idéias.

Por isso, assistimos durante essas últimas semanas muitas aberrações, mentiras e difamações. Chegaram a dizer que 40% dos lotes de Reforma Agraria, no Brasil, já foram vendidos. Estes dados não são verdade. Contestamos com o censo realizado pela Universidade de São Paulo, nos últimos meses do governo FHC, que comprovou que há desistência – que é muito diferente de venda – apenas no norte do país, principalmente na Amazônia. No nordeste, a desistência é de 5% e no sul e sudeste, há um aumento do número de famílias que passam a viver no assentamento. Mas ninguém esclareceu isso.

Disseram que o Movimento quer impedir a entrada de capital estrangeiro porque ocupamos a fazenda Veracel no sul da Bahia. Esta mobilização foi para denunciar o quanto é injusto aquele projeto de uma multinacional com capital da Suécia, Noruega e Inglaterra que vem aqui para impor monocultura de eucalipto, financiado pelo dinheiro público do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e levar a celulose, deixando aqui a pobreza e a degradação do Meio Ambiente.

Todos nos condenaram. Mas ninguém quis explicar por que a Veracel desalojou mais de 400 pequenos e médios produtores da região ou por que a multinacional financia a campanha de todos os partidos da Bahia. Criticam a ocupação de áreas tidas como produtivas, mas não questionaram qual o benefício para a região e para o povo brasileiro de uma floresta homogênea de eucalitpo, em 70 mil hectares de região de mata atlântica, que agora, não cria nem passarinho! Queremos que a sociedade brasileira discuta essas coisas, reflita sobre o que significa este modelo agrícola.

Esses meios de comunicação também esqueceram que a constituição determina que todas as grandes propriedades devem cumprir sua função social, relacionada com a produtividade, com o bem estar da população local, com o meio ambiente e com as relações sociais dentro da área.

Então, perguntamos: será que a propriedade de uma empresa canadense, que tem 25 mil hectares em São Paulo, para criar gado de forma extensiva, e é produtiva? Aos olhos da imprensa, será que ela cumpre uma função social para o povo brasileiro, ou apenas é fonte de lucro para uma transnacional?

Nós queremos discutir com a sociedade que a Reforma Agraria é uma forma de construir um modelo mais justo no uso da terra e é uma maneira de enfrentar o maior problema que a nossa sociedade, o desemprego e a pobreza. Enquanto houver latifúndio, haverá pobreza, desemprego e continuará o êxodo rural que alimenta a miséria nas cidades.

A Reforma Agrária pode ser uma grande medida massiva para o governo conseguir, a baixo custo, gerar milhões de empregos no campo e influir na cidade. Os Sem Terra, ao serem assentados, passam a comprar bens produzidos pela indústria na cidade, fomentam o comércio local e produzem mais produtos alimentícios. O assentamento de uma família custa 30 mil reais e gera 2,5 empregos. É o custo mais barato que tem para um emprego. No comércio, custa 40 mil reais para gerar um emprego; na indústria, em média, 80 mil reais por pessoa.

O Povo sabe que o MST tem razão e, que o latifúndio só gera injustiça e pobreza e que se o Sem Terra não se mobilizarem, nada mudará nesse país.

Um forte abraço a todos e a todas
Secretaria nacional do MST

Breves

Festa do jornal Le Monde Diplomatique homenageia MST

O MST foi homenageado durante as celebrações dos 50 anos do jornal francês Le Monde Diplomatique no último dia 7, em Paris. O único brasileiro presente era João Pedro Stédile, da coordenação nacional, que foi convidado para representar o MST no evento chamado “Vozes da Resistência”.

Curso de agronomia para Sem Terra é retomado em Sergipe

Sessenta Sem Terra que estudavam no primeiro curso de agronomia do Brasil em nível superior para educandos da Reforma Agrária poderão voltar às aulas dia 17 de maio. O curso havia sido suspenso 20 dias após seu lançamento, por meio de ação judicial de um grupo de agrônomos ligado à Aease (Associação dos Engenheiros Agrônomos de Sergipe) que contestavam a política de cotas para os Sem Terra.

Assentamentos de Santa Catarina mostram os resultados da piscicultura do MST

O MST realizou, nos dias 7 e 8 de maio, a 4ª edição da Festa da Carpa e 1ª Feira do Peixe, em Abelardo Luz, oeste catarinense. O evento mostrou como a piscicultura tornou-se uma atividade rentável e importante no desenvolvimento dos assentamentos da região. No município, encontra-se o maior conglomerado de assentados do Estado, são 1.500 famílias.

Cartas

Devo parabenizá-los pelo brilhante “Abril Vermelho” que resgatou a memória dos companheiros mortos em Eldorado dos Carajás e outros tantos que deram e estão dando suas vidas pela Reforma Agrária e por uma Sociedade mais Justa. André Luiz Barbosa

Esse movimento é um dos únicos no Brasil que nos mantém a esperança da revolução!
Daniel Savedra

Acredito fielmente nessa luta encabeçada pelo MST há tanto tempo. Quero aprender com voçes para que eu possa melhorar na defesa dessa causa sagrada. André