Defesa da biodiversidade e soberania alimentar marcam debates na Conferência Terra e Água

Defesa da biodiversidade e soberania alimentar marcam debates na Conferência Terra e Água

24/11/2004

O secretário de Biodiversidade e Florestas, João Paulo Capobianco, abriu os debates do 3º dia da Conferência Nacional Terra e Água criticando a monocultura imposta pelo agronegócio e afirmou que o governo federal já assumiu como um dos projeto de governo a agrobiodiversidade. “A diversidade traz equilíbrio ao campo”, afirmou ao dizer que a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, apóia ações da agricultura familiar e que o Ministério é o braço do governo contra a indústria do agronegócio.

Capobianco apresentou dados demonstrando que 90% das propriedades rurais do país estão nas mãos dos agricultores familiares e que eles produzem 60% dos alimentos que o Brasil consome. Em contrapartida, atualmente estes agricultores familiares só têm 30% de apoio financeiro. De acordo com Capobianco, o governo está se organizando para dar o apoio necessário a esses agricultores. “84% da mandioca, 67% do feijão, 52% do leite e 49% do milho consumido no país vem da agricultura familiar”, informou.

Ênio Gutierrez, assessor da Via Campesina, trouxe dados sobre o futuro do país. Segundo ele, a biodiversidade está em perigo, pois a atual civilização tem causado sua destruição de forma massiva. “A extinção das espécies é normal e faz parte do processo evolutivo, mas o ritmo que vêm acontecendo nos últimos anos é assustador”, disse ao citar que se o ritmo continuar 50% da fauna e da flora será extinta nos próximos 100 anos.

“A soberania alimentar, a diversidade e a biodiversidade estão inter-relacionadas e delas dependem o futuro da humanidade. Precisamos defendê-las”, concluiu.

Já Altemir Tortelli, da FETRAF/CUT (Federação dos Trabalhadores da Agricultura Familiar /Central Única dos Trabalhadores) lembrou que a biodiversidade está na pauta nacional e é necessário se fazer um debate amplo e profundo sobre quais políticas públicas necessárias para existir “um Brasil para todos”.

Ele criticou o projeto capitalista implementado no Brasil nos últimos anos, o qual impõe o controle da estrutura do estado e do sistema produtivo traz conseqüências graves ao gerar desemprego, a destruição dos rios, terras e matas. “Este modelo é contraditório. Sua implantação foi justificada em cima do grande argumento de gerar muito alimento para matar a fome do povo brasileiro e da população do mundo, mas na verdade esse modelo é gerador de famintos. Essa é a grande contradição desse modelo neoliberal, que gera Fome no campo e na cidade”, afirmou.

Egídio Brunetto, da coordenação nacional do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), lembrou que os trabalhadores rurais precisam ser respeitados como o setor mais importante da sociedade porque não é possível viver sem alimento. Brunetto criticou também o modelo agrícola atual. “Como esse modelo pode ser sustentável se nossos produtos vão para exportação?”, questionou. Para ele, os alimentos têm que estar fora dos tratados comerciais.

Justina Cima, do MMC (Movimento de Mulheres Camponesas), também iniciou sua participação com um questionamento: “qual a relação que temos com a água e a terra? É uma relação de exploração, de domínio. Precisamos construir uma nova prática. Os alimentos nos dão vida. Precisamos dar vida a eles também”. Para Justina, a saúde do ser humano depende também da saúde da natureza. Ela acredita que, cada vez mais, “precisamos garantir ao povo brasileiro um alimento saudável”.