Estudantes universitários vivem cotidiano dos acampamentos

Estudantes universitários vivem cotidiano dos acampamentos

15/12/2004

Em fevereiro de 2005, os acampamentos e assentamentos do estado de Minas Gerais vão receber estudantes universitários de todo o Brasil e da América Latina para uma vivência de 14 dias. A experiência faz parte do Estágio Interdisciplinar de Vivência (EIV), que acontece pela segunda vez em Minas Gerais.

Com o objetivo de aproximar o universitário da realidade sócio-econômica brasileira e superar os muros da universidade, o Estágio Interdisciplinar de Vivência (EIV) é dividido em três etapas: a preparatória, com discussões e aulas para aprofundar a compreensão dos processos organizativos, produtivos e políticos da Reforma Agrária; a vivência, em que os estudantes passam 14 dias em alguma área de acampamento ou assentamento do MST conhecendo a organização política, produtiva, social e cultural dos camponeses; e a conclusiva, em que os estudantes se reúnem para socializar suas experiências individuais e definir encaminhamentos para futuros projetos.

O estágio é construído em conjunto pelo movimento estudantil em parceria com os movimentos sociais. A primeira experiência foi realizada por estudantes de agronomia em Dourados, no Mato Grosso do Sul, em 1989. Entre 1997 e 2001, estudantes de agronomia da Universidade Federal de Viçosa (UFV) e da Universidade Federal de Lavras (UFLA), através da Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil (FEAB), realizaram experiências regionais com pequenos agricultores.

“Em 2003 ocorre uma proposta conjunta da FEAB, da ENEV (Executiva Nacional dos Estudantes de Veterinária), o MST e o Incra de massificar os estágios e assim se concretiza o 1º Estágio Interdisciplinar de Vivência do Estado de Minas Gerais”, explica Maria Gabriela Teresa, estudante de agronomia da UFV e integrante da comissão organizadora do estágio.

No ano passado, 54 estudantes do Brasil e da América Latina participaram da proposta inovadora. “Quando surgiu a oportunidade de participar do estágio, tive certeza que de que aquele era o momento de deixar o simples inconformismo estudantil se transformar em força, capaz de gerar alguma mudança”, avalia Március Alves Crispim, estudante de direito da UFV, que participou do estágio nesse ano.

Vivência

“Ele lavava vasilha, cortava toucinho, ralava milho, ralava mandioca para fazer bolo e pescava. Se ofereceu até para fritar peixe, que ele mesmo limpava. Tudo que a gente fosse fazer ele estava pronto para ajudar”, conta Alzira Gonçalves Martins, que recebeu Crispim em sua casa, no acampamento 2 de Julho, em Betim (MG).

“Cada um que vem, com certeza vai mudar duas ou três pessoas lá fora. A sociedade nos julga mal porque não nos conhece. Para nós, é gratificante essa troca com as pessoas que vêm de fora porque eles vão levar a nossa realidade”, acredita José Marcos Barbosa dos Santos coordenador regional do MST.