Símbolo da violência do latifúndio é destruído em Pernambuco

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Símbolo da violência do latifúndio é destruído em Pernambuco

18/12/2004

Em protesto pelo assassinato de duas lideranças em Pernambuco, cerca de 600 trabalhadores rurais Sem Terra destruíram, na tarde de hoje (18), a Casa Grande da Fazenda Recreio, em Passira (PE). Os trabalhadores fazem parte do acampamento Gregório Bezerra e ocupam a fazenda desde 2002. Os irmãos Francisco Manoel de Lima, 28 anos, e Edilson Rufino da Rocha, 36, foram assassinados dentro da casa de sua família por três pistoleiros na madrugada de ontem (17).

“A Casa estava vazia, ninguém morava lá. Destruímos a Casa Grande porque é o símbolo da violência do latifúndio que escraviza os trabalhadores brasileiros há 500 anos”, explica Jaime Amorim, da coordenação estadual do MST em Pernambuco, “O protesto é contra a violência e impunidade no campo, que se resolverá com a Reforma Agrária”.

Com a morte dos irmãos, agora são três trabalhadores Sem Terra assassinados por pistoleiros em menos de 48 horas no estado.

“Não há como comparar este ato (a destruição da Casa Grande) com a violência dos assassinatos. Neste conflito, só há mortes de um lado”, declarou o secretário especial dos Direitos Humanos, Nilmário Miranda.

O secretário acompanhou o enterro dos dois líderes do MST em Passira junto com o secretário executivo do Ministério do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel, o Deputado Federal Fernando Ferro (PT-PE) e o presidente da Comissão de Direitos Humanos na Assembléia Legislativa de Pernambuco, Roberto Leandro (PT).

Francisco Manuel de Lima, um dos irmãos assassinados, tinha sido testemunha no inquérito aberto em 24 de novembro último sobre o atentado a balas contra as 180 famílias que tentavam reocupar a fazenda Recreio. A polícia, a Promotoria Agrária e o MST acreditam que vingança foi o motivo do crime, já que o jovem denunciara alguns dos pistoleiros envolvidos. Ainda no final de novembro, a superintendente do Incra em Pernambuco, Maria de Oliveira, esteve em Passira e constatou a presença de milícias particulares, pagas pelos fazendeiros para defender os latifúndios.

Josuel Fernandes da Silva, de 29 anos, morto na madrugada da última quinta-feira (15) era uma das lideranças do acampamento Manguinhos, na cidade de São José da Coroa Grande, litoral sul do estado. Ele e seu pai, Antônio Fernandes da Silva, de 57 anos, já haviam denunciado várias ameaças de morte que receberam. Antes de falecer, chegou a ser socorrido e identificou um dos assassinos como Marcos, que trabalhava como segurança da propriedade para o dono do Engenho Manguinhos. O acusado está foragido.