Marchas e assembléias contra a opressão

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Marchas e assembléias contra a opressão

17/01/2005

Por Tatiana Merlino
Fonte Jornal Brasil de Fato

As mudanças na estrutura do Fórum Social Mundial (FSM) de 2005, como a territorialização do evento, por meio da constituição de espaços temáticos, e o fim das atividades propostas pela organização do encontro, devem dinamizar bastante as atividades dos movimentos sociais, já que, segundo os militantes, os desafios para 2005 continuam enormes.

De acordo com a ativista argentina Maité Llanos, da secretaria da Campanha Continental contra a Alca, com a nova estrutura do FSM “fica muito mais fácil planejar as atividades”. Segundo ela, entre os grandes desafios dos movimentos para o Fórum deste ano estão a militarização, a ocupação do Iraque, a Organização Mundial do Comércio (OMC), os acordos com a União Européia, e a campanha contra a Área de Livre Comércio das Américas (Alca). (veja Agenda) Para a militante argentina, a campanha contra a Alca é muito importante porque, “em parte, o acordo não foi assinado por pressão dos movimentos e das campanhas, e vamos continuar de olho nele”.

Resistência

Para o cientista político Gonzalo Berrón, secretário da Aliança Social Continental (ASC), que congrega dezenas de redes de entidades e movimentos sociais da América Latina, as atividades dos movimentos no FSM serão muito importantes “para ajudar a resistir em 2005”. Na sua opinião, os debates ajudarão na articulação das lutas globais contra o livre comércio, a dívida e a militarização. E vão contribuir para estruturar as ações durante a reunião de ministros da OMC, em dezembro, em Hong Kong; na semana de Ação Global, em abril; na 3ª Cúpula dos Povos e na 4ª Cúpula das Américas.

Berrón explica que as discussões pretendem mostrar a complexidade da ofensiva do livre comércio por meio de TLCs, Alca, Mercosul- União Européia, e como é possível combatê-la. E popularizar todos esses temas junto à opinião pública.

Feira, não

Os movimentos sociais resistem às críticas feitas ao Fórum, que já foi chamado de “feira ideológica”, com muitos debates e poucas propostas práticas. Mas dizem que a sua é uma postura “diferenciada” no evento. Gonzalo Berrón diz que o FSM foi articulado exatamente para possibilitar uma diversidade de experiências, enquanto a Rede de Movimentos Sociais foi criada para gerar posicionamentos políticos “mais fortes”.

Nalú Faria, da Marcha Mundial de Mulheres acredita que o Fórum é um espaço “amplo de ambiguidades”, e que entre os participantes há os que têm metas mais “limitadas”. Ela, porém, aponta para os objetivos mais ambiciosos dos movimentos sociais.
Nalú também lembra que o Fórum é um processo de articulação, “que serve para alimentar nossas ações, que acontecem no decorrer do ano”. Para ela, a Assembléia Mundial dos Movimentos Sociais é um “saldo e reflexo do fortalecimento da luta e articulação mundial dos povos “.

Mulheres

Para a Marcha Mundial de Mulheres, os desafios do Fórum são “o fortalecimento da Marcha como movimento internacional, avançar na ofensiva contra a mercantilização das mulheres, e dar visibilidade às ações da marcha em 2005, como a carta mundial de mulheres”, afirma Nalu Faria.

No dia 8 de março de 2005, uma grande mobilização nacional em São Paulo vai dar início a um percurso mundial de protesto, denúncia e construção de alternativas. “A Carta Mundial das Mulheres para a Humanidade é o resultado de um longo processo de participação e convergência e, com ela, queremos ampliar o debate sobre as reivindicações da Marcha”, diz Nalu. A Carta vai passar por 40 países, e dia 17 de outubro chega a Ouagadougou, em Burkina Faso, na África.

Os intocáveis

Outra atividade do calendário dos movimentos sociais é o Fórum Mundial da Dignidade. Iniciativa dos dalits – os chamados intocáveis, a camada mais baixa da estratificada sociedade indiana – a primeira edição da atividade ocorreu no FSM 2004, na Índia, e reuniu 8 mil pessoas, entre acadêmicos, escritores, movimentos sociais, dalits e ativistas da Ásia e Europa.

O encontro acabou ganhando vida própria e continuou suas atividades na Índia durante todo o ano de 2004. Entre elas, a mobilização para transformar o 5 de dezembro em Dia Internacional dos Dalits e dia Mundial da Dignidade. “A situação em que vivem 160 milhões de pessoas na Índia finalmente foi trazida à tona”, afirma Evanize Sydow, da Rede Social de Justiça Direitos Humanos, uma das entidades participantes do encontro.

Na edição 2005, as mesmas organizações voltam a realizar o Fórum Mundial da Dignidade. “Além de dar visibilidade à problemática dos dalits, o encontro terá o tema ampliado e a participação de outras organizações, que lutam contra outros tipos de discriminação, como as comunidades quilombolas, os sem-terra e os atingidos por barragens”, lembra Evanize.