Testemunhas do assassinato de Dorothy Stang são perseguidas em Anapu

“Desde o início das investigações do assassinato de Irmão Dorothy Stang, ficou evidente a intenção da polícia civil de Anapu, chefiada pelo delegado Marcelo Ferreira de Souza Luz, de prejudicar o andamento das investigações, beneficiando assim os fazendeiros acusados”, afirma texto divulgado ontem por 14 entidades presentes no estado do Pará.

O documento é assinado pelo MST, Comissão Pastoral da Terra (CPT), Conselho Indigenista Missionário (Cimi), Prelazia do Xingu, Cáritas Brasileira, Pastorais Sociais da CNBB, Terra de Direitos, Justiça Global, Rede Social de Justiça e Direitos Humanos, Rede Nacional de Advogados e Advogadas Populares, Coordenação dos Movimentos Sociais, Conferência dos Religiosos do Brasil, Comitê Irmã Dorothy e Irmãs de Notre Dame.

Segundo o texto, a testemunha Geraldo Magela, que encontrou o pistoleiro Rayfran das Neves Sales no dia em que ele foi preso, “ouviu policiais civis orientando o pistoleiro a incriminar o sindicalista Francisco de Assis dos Santos Souza, conhecido como Chiquinho do PT, tentando induzir a sociedade a acreditar que o assassinato era resultado de disputas internas”. Magela, uma das principais lideranças do Projeto de Desenvolvimento Sustentável (PDS) Esperança, teve prisão preventiva decretada.

“Os demais mandados de prisão são referidos a nomes e apelidos sem sobrenome algum. Assim sendo, para o delegado de Anapu, com seu efetivo policial, e com esses mandados de prisão preventiva decretados pelo juiz de Pacajá, foi possível escolher qual Luís iria prender, prendendo o trabalhador colono do PDS Luis Morais de Brito, vítima do fazendeiro Bida, que teve a sua casa queimada por ele e que reiteradamente fazia ocorrências de ameaças que sofria por Bida e por Tato”.

“A decisão do Juiz Estadual de Pacajá, Dr. Lucas do Carmo, decretando essas prisões preventivas no abre possibilidades reais para que as principais testemunhas do assassinato da irmã Dorothy não sejam ouvidas dentro do prazo, possibilitando que os acusados, hoje presos, sejam soltos”, conclui o texto.

Outras denúncias

No dia seguinte ao assassinato de Dorothy, dois trabalhadores rurais também morreram assassinados na região: Adalberto Xavier Leal, o Cabeludo e Cláudio Dantas Munis, o Matogrosso.

No caso de Cabeludo, a polícia civil de Anapu acusou imediatamente os trabalhadores ligados à Irmã Dorothy de serem os autores do crime. “Já no caso de Matogrosso, após pressões dos trabalhadores em reunir provas e do depoimento prestado pela viúva, o delegado foi obrigado a prender um dos pistoleiros acusados do crime conhecido como Chapeuzinho. Porém, poucos dias após a prisão, o delegado Luz esteve na residência da viúva e a obrigou a assinar duas folhas em branco. Na delegacia, ele forjou um depoimento em que a viúva inocentava o pistoleiro e este foi solto imediatamente”, coloca o documento.

Luz foi denunciado pelo fazendeiro Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida, acusado de ser o mandante do assassinato de Dorothy, através de um bilhete, de ter recebido 10 mil reais para proteger as terras de fazendeiros da região contra possíveis ocupações. Em razão disso, segundo informações divulgadas pela imprensa, responde a processo administrativo.