Renda do trabalhador subiu 1% em 10 anos

Por Lauro Veiga Filho
Fonte Jornal Brasil de Fato

A lenta reação da renda e a parcimoniosa recuperação do mercado de trabalho não parecem ter alcançado força sufi ciente para relançar a economia em uma fase de crescimento sustentado, ao contrário do que tem apontado a equipe econômica.

Em março, dado mais recente divulgado pelo IBGE, o rendimento médio pago aos trabalhadores e assalariados das seis regiões metropolitanas pesquisadas regularmente atingiu R$ 945,20, uma variação de 0,5% em relação a fevereiro, e de 1,7% sobre março do ano passado.

Quando comparado a março de 2003, no entanto, persiste uma perda de 0,7%. Numa perspectiva de prazo mais longo, conforme a consultoria GRC Visão, pode-se entender por que a economia não tem conseguido alçar vôos mais altos. “O valor atual (da renda média do trabalhador) é praticamente o mesmo observado no momento da implantação do Plano Real, em julho de 1994”, dizem os consultores da GRC Visão.

Na verdade, a análise aponta que o país “retrocedeu no tempo, no que diz respeito à renda da população”. O rendimento médio real chegava a R$ 935,10 no momento de lançamento do Real, o que significa que a renda sofreu uma ligeira variação de 1,1% em 10 anos e 9 meses.

Aperto

Em sua melhor fase, nos anos mais recentes, o rendimento dos trabalhadores alcançou um valor médio de R$ 1.170,80, entre julho de 1996 e novembro de 1998, o que coloca o valor de março deste ano quase 20% mais baixo. Para retomar o poder de compra verificado então, seria necessário um aumento de 23,9%.

Por isso mesmo, a participação do consumo dos brasileiros nas riquezas geradas pelo país despencou de 64%, em meados dos anos 90, para 55% no ano passado. Essa perda dificulta a recuperação de setores que dependem do mercado interno e do desempenho da renda dos trabalhadores e do emprego, à exemplo das indústrias de alimentos, roupas, calçados, móveis e outras.

Desemprego

“Neste sentido, a atual condução da política monetária aplicada no país (ancorada exclusivamente na elevação dos juros) tem contribuído, e muito, para a manutenção desse quadro (de achatamento da renda)”, avalia a GRC Visão.

Nos últimos dias, duas pesquisas recentes indicaram uma tendência de recrudescimento do desemprego, embora não com o mesmo ímpeto verificado nos piores períodos de 2003. Segundo o IBGE, a taxa de desemprego nas seis regiões metropolitanas que pesquisa (Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre) subiu ligeiramente de 10,6% em fevereiro para 10,8% em março.

Na Grande São Paulo, de acordo com o Dieese, que pesquisa o mercado de trabalho na região em parceira com a Fundação Seade, o desemprego passou de 17,1% para 17,3%.

Bicos

Embora nos últimos 12 meses, as contratações de empregados com carteira assinada tenham representado mais de 70% das vagas criadas, houve alguma piora desse indicador em março. Na comparação com o mesmo mês do ano passado, o total de pessoas com algum tipo de ocupação aumentou o equivalente a 743 mil (mais 3,9%), das quais 522 mil passaram a ter carteira assinada.
Em relação a fevereiro, no entanto, foram abertas mais 130 mil vagas nas seis regiões metropolitanas, uma variação de 0,7%. Daquele total, 61 mil – ou 47% – passaram a fazer “bicos”, voltando a trabalhar por conta própria.