Bush se recusa a fixar data para retirar tropas do Iraque

Com informações do Diário Vermelho

George W. Bush, presidente dos Estados Unidos, disse ontem (28) à noite, em discurso proferido no Forte Bragg, na Carolina do Norte, que se recusa a fixar uma data para a retirada das tropas americanas do Iraque, alegando que isso seria “um grave erro”. Embora tenha dito também que enviar mais soldados “enfraqueceria” sua estratégia, afirmou que só tomaria essa decisão se o comando militar que coordena a força de ocupação do Iraque pedisse reforços.

“Admito que os estadunidenses queiram que nossas tropas voltem para casa o mais rápido possível. Eu também. Alguns sustentam que deveríamos fixar uma data para retirar as forças dos Estados Unidos. Deixem-me explicar-lhes que isso seria um erro. Alguns me perguntam: se completar a missão é tão importante, por que não manda mais tropas?”, alegou.

“Se nossos comandantes no terreno nos disserem que precisamos de mais tropas, eu as enviarei, mas nossos comandantes me dizem que têm a quantidade de efetivos de que precisam para fazer seu trabalho”, disse.

Bush disse que fixar uma data de retirada poderia fazer com que os iraquianos acreditassem que estavam sendo “abandonados” antes do país ser “pacificado”. Os comentários do presidente foram transmitidos pela televisão, em horário nobre, a todo o país. Os Estados Unidos vivem um momento de pesadas críticas à invasão do Iraque e, segundo as pesquisas, há cada vez mais pessoas a favor do retorno imediato das tropas do país árabe e contra o líder do regime americano.

Na segunda-feira, o jornal americano “The Washington Post” divulgou uma pesquisa em que mostra que, pela primeira vez, a maioria dos estadunidenses (53%) diz acreditar que o governo dos Estados Unidos os “enganou deliberadamente” durante a preparação para a guerra no Iraque.

Ainda de acordo com a pesquisa, um número maior (57%) dos estadunidenses pensam que o governo do presidente Bush, “intencionalmente exagerou as evidências de que o Iraque pré-guerra tinha armas nucleares, químicas e biológicas”.

Bush também fez referência a Osama bin Laden, projetando que a vitória no Iraque é “vital para derrotar o terrorista mais procurado pelos Estados Unidos no mundo e seus seguidores”. Bush já não faz mais menção de capturar bin Laden, nem sequer citou os motivos alegados para invadir o Iraque em março de 2003, que posteriormente revelaram-se falsos.

Iraque “soberano”

Bush também fez um discurso para lembrar o primeiro aniversário da “entrega” da “soberania” do Iraque às autoridades do país. A formalidade simbólica, pois o poder efetivo continua nas mãos do exército invasor, ocorreu em 28 de junho de 2004. Com pompa e circunstância, o administrador estadunidense Paul Bremer entregou o “comando” a Iyad Allawi, que, à época, era primeiro-ministro interino do Iraque.

No discurso, Bush já falara da necessidade de manter o “curso da operação no Iraque”, apesar das “tristes imagens” dos ataques da resistência, realizados diariamente e com cada vez mais vítimas dentro do quadro de militares iraquianos.

Bush fez silêncio quanto às imagens de centenas de milhares de civis mortos durante a ocupação e das centenas de prisioneiros torturados nas prisões do país por seus soldados. Segunda-feira, o secretário de Estado dos Estados Unidos, Donald Rumsfeld, disse que a luta contra a resistência pode durar “até 12 anos”.

Bush também afirmou que não vai sair do Iraque até que as forças de segurança iraquianas estejam devidamente “treinadas e equipadas”.

Congressistas democratas e alguns republicanos apóiam uma resolução que tramita do Congresso estadunidenses para que a retirada do Iraque seja iniciada em outubro de 2006. Bush já disse que vai vetar a resolução e o discurso de ontem à noite deixou mais evidente essa determinação.

O senador democrata, John Kerry, que concorreu com Bush à Presidência em 2004, pediu para que o presidente “conte a verdade ao povo estadunidense”.

“Esse discurso dizendo que a insurgência (sic) está ‘nas últimas horas’ leva a uma expectativa frustrada”, disse o senador em artigo publicado pelo jornal “The New York Times” ontem.

“O presidente precisa anunciar imediatamente que os EUA não vão ter uma presença militar permanente no Iraque”, afirma Kerry.