Um momento muito decisivo

Por Plinio de Arruda Sampaio
Fonte Jornal Correio da Cidadania

Não há reputação, por mais sólida que seja, capaz de resistir por muito tempo à barragem de mídia que está sendo dirigida contra o presidente Lula e o PT. A “malhação” já ultrapassou o sensacionalismo das manchetes para atingir o terreno do “escracho” – termo que, na linguagem policial, consiste em expor uma pessoa a situações vexaminosas, a fim de destruir sua imagem pública.

Se Lula quiser evitar o pior, precisa atuar com extrema rapidez e firmeza. Mas a ação capaz de conter o ataque não se circunscreve às providências policiais e administrativas para apuração dos fatos. Estas já foram tomadas e, se de um lado, beneficiaram o presidente junto à opinião pública, por evidenciar sua disposição de combater a corrupção, por outro lado, fornecem combustível para o sensacionalismo da mídia, pois, a cada dia, esta encontra (ou cria) um fato novo para manter aceso o noticiário. Afinal, não se deve esquecer que aumentar as vendas é sempre a primeira preocupação dos donos de jornal.

As medidas que podem conter o “tornado” são de duas ordens. Primeiro, é preciso passar o bisturi com toda decisão no problema da reforma política. Não há quem desconheça que o financiamento de campanhas eleitorais está na raiz da corrupção administrativa que pragueja a Nação. Pôr um ponto final nessa vergonha não é uma questão técnica, mas uma questão política. O atual sistema interessa ao poder econômico e às elites tradicionais do país e, portanto, uma reforma política séria importa uma verdadeira disputa de poder. Em seguida, Lula precisa mudar a política econômica, pois a conjugação dos escândalos administrativos com falta de emprego e achatamento dos salários forma uma mistura altamente explosiva.

Lula anunciou uma reforma ministerial. Mas se se confirmarem os balões de ensaio acerca dos nomes que estão sendo cogitados, a emenda será bem pior do que o soneto. Dá para imaginar a cara dos eleitores de Lula se pessoas como Delfim Neto (hoje distinguido comensal do Planalto), Abílio Diniz e outros da mesma estirpe se tornarem ministros do governo popular?

Para quem não tem acesso aos bastidores do drama que se desenrola em Brasília, a impressão é que o governo está desnorteado, e é aí que mora o perigo. Não que haja forças ocultas preparando um golpe de Estado. Golpe é sempre uma ação da direita e esta não tem motivo algum para derrubar Lula, até porque as políticas do governo não estão afetando em nada os seus interesses.

Mas também é certo que, se o tipo de situação que o país está vivendo não for logo superado, Lula não terá tempo para recuperar a ofensiva política no ano e meio que falta para terminar o seu mandato.