Indígenas do Brasil e ativistas fecham entradas da multinacional na Alemanha

Dois indígenas e cerca de 20 ativistas da ONG alemã Robin Wood bloqueiam desde a manhã de hoje a entrada da fábrica da multinacional Procter&Gamble, na cidade de Neuss, Alemanha.

A multinacional compra celulose da Aracruz, empresa que invadiu as terras dos povos Tupinikim e Guarani, no Brasil, e com a matéria-prima produz lenços de papel da marca Tempo, uma das mais conhecidas na Europa.

“Nosso nariz está cheio”, diz a faixa colocada na entrada da fábrica da Procter& Gamble. A expressão, na Europa, significa algo como “Estamos cansados, irritados”.

Desde as 11 horas da manhã (7h00 no Brasil), Paulo Henrique Vicente de Oliveira, Tupinikim da aldeia Caieira Velha, e Wera Kwaray, Guarani da aldeia Boa Esperança e mais 20 ativistas bloqueiam três entradas da fábrica. Os caminhões da empresa estão esperando em um estacionamento no outro lado da rua. Quatro carros da polícia estão no local.

“As pessoas na Alemanha devem saber que nós, Tupinikim e Guarani, fomos brutalmente expulsos por causa da matéria prima do Tempo”, diz o Tupinikim Paulo Henrique Vicente de Oliveira, coordenador da segunda maior organização indígena no Brasil, a Apoinme. “Procter&Gamble também tem responsabilidade com a Aracruz, que roubou nossas terras, destruiu nossas matas e envenenou nossos rios com agroquímicos”, diz Wera Kwaray, Cacique da aldeia Guarani Boa Esperança. “Aracruz impacta negativamente nossa cultura”.

A manifestação foi organizada pela ONG Robin Wood, que trabalha com meio-ambiente, e está preocupada com a situação no Espírito Santo, onde os Tupinikim e Guarani foram expulsos de suas terras pela Aracruz que, através de pressão política e com um acordo inconstitucional, conseguiu que a terra indígena fosse homologada com um tamanho menor do que o previsto nos estudos antropológicos realizados para a demarcação da terra.

Os dois indígenas estão na Alemanha para reivindicar que a fábrica pressione Aracruz Celulose a devolver os 11.009 hectares de terra indígena ocupados no estado do Espírito Santo. Eles entregarão à Procter&Gamble uma declaração, na qual exigem o cancelamento dos contratos com a Aracruz, enquanto a empresa não resolve seus conflitos de terra com índios, sem terra e quilombolas. A intenção dos ativistas é continuar em frente à até que a empresa divulgue uma posição.