Na Áustria, Tribunal dos Povos julga transnacionais como a Aracruz

Por Sally Burch
Fonte Alai

O “Tribunal dos Povos às Transnacionais Européias e ao sistema de poder das corporações na América Latina e Caribe” começa amanhã em Viena, na Áustria, às vésperas da cúpula da Organização Mundial do Comércio (OMC).

O tribunal vai revisar a atuação das empresas transnacionais em cinco áreas, escolhidas pelas denúncias recebidas ou por simbolizar lutas emblemáticas como serviços públicos (água e eletricidade), recursos naturais (hidrocarburetos e minério), cadeia alimentar, mundo do trabalho e finanças.

Durante os dois dias de apresentação, o tribunal escutará o testemunho de 30 pessoas de 11 países da América Latina e do Caribe, que falarão sobre o impacto da ação das empresas transnacionais em seus países, comunidades, locais de trabalho, sobre a soberania dos Estados e muitas outras dimensões.

Entre as empresas constam a Suez, da França, em relação aos serviços de privatização da água em cinco países; a petrolífera espanhola Repsol, com testemunhos da Colômbia, Bolívia e Equador; a empresa alemã Bayer, em conseqüência dos agrotóxicos no Peru; seis empresas de reflorestamento e celulose pelas plantações no Uruguai e no sul do Brasil – como a Aracruz Celulose, ocupada pelas mulheres Via Campesina em 8 de março desse ano; e a Telefônica na Espanha, sobre os direitos trabalhistas.

Um júri de oito membros, vindo de todos os continentes, emitirá o veredito. Como os tribunais dos povos anteriores, este é um tribunal de opinião, que não tem poder legal.

Para Claudia Torrelli, integrante da Alianza Social Continental e uma das coordenadoras do Tribunal, “o evento é um primeiro passo para começarmos a sistematizar, gerar uma convergência no trabalho das multinacionais, tanto para fortalecer campanhas concretas, quanto para ter dentro do movimento demandas mais claras e articuladas sobre a luta contra as transnacionais”.

Ela aponta a importância de dar visibilidade para a problemática e desmistificá-la. “Muita gente pensa que sem as transnacionais não podemos viver, que sempre trazem recursos tecnológicos, que acomodam a balança comercial de nossos países”, disse Torrelli.

O Tribunal foi organizado pela Red Bioregional Europa – América Latina e pelo Tribunal Permanente dos Povos. Ao contrário dos tribunais anteriores, este é o primeiro que se propõe a julgar não apenas as empresas, mas o próprio sistema de poder transnacional corporativo.

“Estamos denunciando que esta é uma questão estrutural e sistêmica e que, portanto, requer uma resposta que vá além das lutas concretas, que seja a somatória de todas elas como parte de um processo estratégico. Nós não queremos apenas falar sobre casos concretos, mas através deles mostrar uma situação estrutural”, acrescentou Torrelli.

O Tribunal faz parte do Fórum Enlaçando Alternativas, que ocorre até o dia 13 de maio.