Em São Paulo, mostra integra teatro latino-americano com experiências populares

A integração em curso na América Latina não se resume apenas às questões políticas e econômicas. A arte e a cultura também estão inseridas neste processo. É com este objetivo que começou ontem, em São Paulo, a Mostra Latino-americana de Teatro de Grupo, organizada pela Cooperativa Paulista de Teatro, que conta com grupos da Venezuela, Argentina, Chile e Colômbia. Os brasileiros estão representados por companhias de Brasília, Minas Gerais, Sergipe, Bahia e Rio Grande do Sul.

A abertura da mostra foi marcada pelo debate História e Atualidade do Teatro Latino Americano. A pesquisadora Iná Camargo Costa chamou a atenção para o fato do Brasil ter muito que aprender com as experiências latinas de teatro livre, uma produção que se dá à margem do mercado e com baixo orçamento.

As experiências latinas no teatro são duradouras. Grupos como o Teatro Experimental de Cali, estão em atividade há mais de 40 anos, o que comprova a importância e a competência do trabalho destas companhias. “Os grupos que tiveram fim foram atropelados pelas ditaduras militares. No Brasil, a ação dos militares impediu que os processos continuassem”, afirma Iná.

No Brasil, a primeira experiência de teatro livre foi com a criação do Teatro de Arena, na década de 60, que no seu começo encenava as mesmas peças do circuito oficial, todas de autores estrangeiros. Mas a encenação de Eles não Usam Black-Tie, de Gianfrancesco Guarnieri, mudou a história do Arena e de todo o teatro brasileiro, já que a peça foi a primeira a retratar um tema essencialmente nacional: a luta da classe trabalhadora.

Depois disso, os grupos teatrais se aproximaram dos movimentos sociais. Ainda nos anos 60, foram criados os Centros Populares de Cultura (CPC), ligado à UNE. Seus integrantes viajavam pelo país com apresentações culturais, sempre com um viés político e transformador, se envolvendo com movimentos sociais como as Ligas Camponesas. “Temos que analisar estas experiências socialmente e culturalmente. Eles, mesmo sem contato com o trabalho desenvolvido na mesma época por grupos latino-americanos, fizeram algo muito parecido” disse César Vieira, diretor do grupo Teatro União Olho Vivo, de São Paulo, que neste ano completa 40 anos de atividade.

Vieira resgatou a história de alguns grupos do continente, como o Teatro Escambray de Cuba, o Teatro Experimental de Cali, o TEC e as experiências teatrais na Nicarágua, durante a revolução sandinista. Nas décadas de 60 e 70 estes grupos desenvolveram um importante trabalho articulado com as organizações sociais.

Para o diretor Hugo Villavicenzio, depois do vazio dos anos 80 e da implementação do neoliberalismo, os grupos teatrais foram retraídos. Mas na década de 90, novos grupos surgiram, à medida que os movimentos sociais se fortaleceram e se organizaram. Diante disso, uma mostra que visa integrar estes grupos em atividade na América Latina é fundamental. “Além da troca de trabalho, estética e linguagem teatral, retomar nossa velha idéia de retomar os vínculos para manter viva esta nossa proposta de integração. Por isso, uma atividade como esta é fundamental, porque do outro lado só encontramos cultura de consumo, oficial que deixa a sociedade imóvel. A tentativa de unir o teatro latino-americano é um sonho antigo e quando ele se renova é sempre um presente para todos e todas”, disse.

A mostra segue até domingo, 14 de maio, e conta, todas as noites, com apresentações teatrais, além de debates e demonstrações de trabalho dos grupos. As atividades acontecem no Centro Cultural São Paulo e no Memorial da América Latina, na capital paulista.

Para acessar a programação completa da mostra, acesse: www.memorial.gov.br