Oficinas promovem troca de experiência orgânica

Fonte Boletim da Jornada de Agroecologia

A 5ª Jornada de Agroecologia, com o tema “Construindo o Projeto Popular e Soberano para Agricultura” trouxe para Cascavel (PR) experiências e conhecimentos adquiridos com o uso da produção agroecológica – sem agrotóxicos – em assentamentos, comunidades tradicionais e entidades ligadas à rede agroecológica. Ontem foram apresentadas 48 oficinas simultâneas, que trataram de temas como água e energia, agrotóxicos: risco à saúde e biodiversidade, uso de plantas medicinais na agroecologia e criação de animais, bioenergia, entre outros. Hoje foram reapresentadas as oficinas que tiveram maior procura, além de outras nove inéditas.

Uma dos espaços com mais participantes tratou do uso de plantas medicinais na agricultura e criação animal. A proposta desta oficina foi mostrar que os animais e a lavoura, assim como as pessoas, podem ser tratados com plantas medicinais. Desse modo, os trabalhadores estarão diminuindo os custos de produção, preservam a sua própria saúde e o meio ambiente.

“A utilização das plantas medicinais possibilita aos produtores se tornarem independente das grandes empresas de medicamentos veterinários”, garante Carolina Fernandes, engenheira agrônoma que ministrou a oficina.

Existem experiências concretas da utilização de plantas medicinais na criação animal em projetos de assentamentos de Nova Laranjeiras, Querência do Norte (PR) e Itapeva, no estado de São Paulo. “É um trabalho de reeducação feito junto aos agricultores. As plantas mais utilizadas no tratamento são o alho e a grimpa de pinheiro, excelentes para combater vermes e parasitas como carrapatos e mosca do chifre”, diz.

Energias renováveis

Fontes de energias tiradas da natureza que tem o poder de se renovar. Essa foi a discussão da oficina de energias renováveis. O estudante do curso técnico de agropecuária com ênfase em agroecologia, André Martins da Silva apresentou a experiência da Escola Milton Santos do MST em Maringá (PR). A escola utiliza há pelo menos quatro anos fontes de energias renováveis para o aquecimento da água de toda estrutura. Segundo ele, a oficina apresentou uma alternativa de energia que evita a agressão do meio ambiente.

“Está é uma alternativa com um alto custo para a instalação, mas o benefício é muito grande, porque a economia em consumo de energia elétrica é enorme. A energia solar pode ser utilizada por meio da produção de energia fotovoltáica e térmica”, disse. Com a fotovoltáica é possível gerar energia elétrica, com placas instaladas em locais isolados, que capta a luz do sol transformando-a em energia elétrica. A térmica permite o aquecimento de água de casas, sistemas industriais e secagem de frutas e plantas medicinas.

Cerveja caseira

A agricultora Lucia Fante Carneiro, de Irati (SC), apresentou uma oficina para repassar aos participantes a receita de como fazer a cerveja caseira. “Essa é uma cerveja feita com produtos simples que os camponeses tem em casa. É preparada com água, lúpulo, açúcar, fermento, gengibre, ovos, alguns dias de descanso, e não vai álcool”, diz a agricultora.

Toda a família de Lucia produz cerveja para o consumo próprio e comercialização, além de refrigerante e vinagre. Ela conta, que faz a cerveja em casa porque sabe que é um alimento saudável, ao contrário da cerveja e refrigerante industrializado, comprado nos mercados, que faz mal a saúde.

Agrofloresta

O Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), uma das entidades promotoras da Jornada de Agroecologia, apresentou ontem, durante as oficinas e seminários, o tema “agrofloresta”. A engenheira agrônoma Lucinéria Venzoto e o educador popular e pequeno agricultor Mário Passos falaram da experiência da Comunidade Rio Esperança, em Nova Laranjeiras. Os produtores adotaram o modelo de agrofloresta há cinco anos. “Nossa maior dificuldade é o tempo para colher os resultados”, diz Passos. A interação e recuperação das espécies são demoradas se comparadas à agricultura, que propicia até duas safras por ano.

Os agricultores da comunidade manejam um total de 25 hectares de agrofloresta e já colhem frutas cítricas. Há também a recuperação de espécies de madeiras nobres nativas, como a imbuia, araucária, cedro, peroba e angico. Mário Passos maneja em uma propriedade cinco hectares e tem para conservação permanente 1,5 hectare.

Bioenergia

Uma medicina que utiliza recursos naturais, resgatando culturas tradicionais e fugindo das grandes indústrias farmacêuticas. Esta é a proposta da medicina bioenergética apresentada durante a jornada. Segundo Edson Chagas, assentado no Contestado, o cuidado com as plantas vai desde o cultivo até a colheita, que deve ser feita ainda no escuro, até a secagem das plantas na sombra.

“Nosso objetivo é mostrar para as pessoas que elas podem utilizar métodos mais eficazes e próximos da realidade delas”, comenta Chagas, que durante a oficina mostrou técnicas e cuidados com as plantas aos participantes.

O método bioenergético parte do princípio de que o corpo humano é animado por uma força sutil, chamada de bioenergia. Ele destaca que cada órgão de nosso corpo tem e emite energia “própria”, que cumpre diferentes funções, vitalizando todas as células. Um órgão sadio emite bastante energia, muito mais energia que um órgão doente. Um órgão saudável cumpre sua função e beneficia todo o organismo. Quando o fluxo energético de um órgão estagna, inicia-se a doença. Ou seja, o corpo todo sofre com um órgão doente.

Criação de gado

Durante a oficina de Pastoreio Racional Voisin (PRV) realizada pelo pequeno agricultor Márcio Bortoluzz, as técnicas de otimização de pasto foram difundidas. “O PRV é um sistema intensivo de manejo do gado, da pastagem e do solo, com piquetes. O sistema procura manter um equilíbrio dos três elementos, sem beneficiar um em detrimento de outro”, explica Bortoluzzi.

Essa mudança no modelo tecnológico dos pequenos agricultores e assentados permite um maior lucro com a otimização do solo e reaproveitamento de recursos naturais, sem aplicação de insumos químicos. “Implantar uma cultura agroecológica no estado vai além da economia. Estamos ensinando aqui a mais moderna tecnologia, aquela que garante eficiência e uma cultura mais sadia para o meio ambiente e para as pessoas que a consomem” completa.