Movimentos sociais precisam de sistema de rede para comunicação

Por Raquel Maria Zolnier

O jornalista equatoriano Osvaldo León, diretor da revista “América Latina em Movimento”, editada pela Agência Latino-americana de Informação (Alai), disse que os movimentos sociais só poderão comunicar suas ações se criarem redes de articulação de mídia alternativa. “A grande mídia é um sistema que os movimentos sociais não podem confrontar, mas precisam da comunicação como um complemento do processo organizativo para mover a sociedade”. A construção do novo tecido social, pretendido pelos movimentos, precisa também do tecido comunicacional, o que se viabiliza através das redes. “Se os movimentos assumem que os componentes-chave da organização são a descentralização e a participação, o uso de novas tecnologias na comunicação é importante, principalmente no trabalho de comunicação horizontal, de interatividade”.

León ministrou a oficina de Comunicação Alternativa durante a 5ª Jornada de Agroecologia, realizada de 7 a 10 de junho, em Cascavel (PR). Ele explicou também como é o trabalho da Alai, que tem por objetivo a democratização da comunicação na América Latina. “Nosso primeiro trabalho significativo foi na comemoração dos 500 anos de chegada européia ao continente, foi daí que iniciamos uma campanha continental”, disse.

Outras campanhas se sucederam, como a do Prêmio Nobel da Paz Alternativo para o MST, várias coordenações setoriais foram criadas. “Percebemos que conectados podíamos fazer coisas que isolados não conseguiríamos e as coordenações setoriais, como da Via Campesina, das mulheres, dos jovens, das organizações urbanas, dos indígenas e outras trabalham unidas nas grandes campanhas, como foi a do Grito dos Excluídos na América Latina, que nasceu no Brasil nos anos de 1995 e 1996”.

Essa base social também permitiu a colocação na mídia de campanhas como a contra a Área de Livre Comércio das Américas (Alca) e a articulação do Fórum Social Mundial. “Se temos uma articulação social, por que não fazer o mesmo na comunicação social?”, questionou León. O trabalho no plano social, disse, não pode se desvincular da comunicação. Nesse contexto, a comunicação se coloca como um dos desafios estratégicos. “Foi a partir disso que criamos a ‘Minga Informativa dos Movimentos Sociais’ – minga é um termo guarani que significa mutirão – que procura aproveitar as particularidades da internet para divulgação dos movimentos”.

Hoje cada coordenação tem seu espaço autônomo, mas trabalham nas campanhas, agendas, ações e plataformas em comum. Mais recentemente, a Alai começou a cobertura de atividades como o Fórum Social Mundial. Foi criada uma equipe, com jornalistas de diferentes coordenações, para coberturas específicas. Para essa cobertura, a base local consegue infra-estrutura, como internet e mobilização, e os jornalistas de toda a América Latina participam da cobertura, com produção de material em português, espanhol, inglês e francês. “Abrimos na internet uma página especial para o evento, ao mesmo tempo em que mandamos a produção para uma lista de distribuição, que no próximo mês vai ser em português também”, afirmou León.

A lista de mobilização tem atualmente 25 mil contatos. “Nossa preocupação não é a de incrementar esse número e sim de trabalhar com pontos multiplicadores, para não saturar”, explicou.