Resgate da cultura caipira diverte camponeses no Paraná

As famílias Sem Terra do pré-assentamento 8 de Abril realizaram festa junina regada a muita pipoca, quentão, doces, fogueira, apresentação de quadrilha, casamento caipira e moda de viola. A intenção foi reunir a comunidade para celebrar a cultura camponesa. “O objetivo foi promover o resgate da cultura caipira e reunir as famílias acampadas”, afirma Mário Kovalski da coordenação do pré-assentamento.

A festa junina aconteceu de 23 a 25 de junho, no pré-assentamento, localizado na antiga fazenda 7 mil, em Jardim Alegre, região centro-oeste do Paraná. Na sexta-feira, as atividades iniciaram as 19 horas, com a construção de fogueira, apresentação de duas quadrilha, uma de crianças e a outra de adultos, com casamento caipira.

Mario conta que está talvez seja a última festa junina realizada pelas famílias como acampamento. “No próximo ano queremos realizar esta atividade na comunidade com as famílias já assentadas nos lotes”.

No sábado, as 19h30 a festança começou com apresentação do projeto Cinema na Terra, com o documentário Classe Roceira e Ergue a tua voz. Em seguida foi apresentada a quadrilha da reforma agrária e baile, com a banda do assentamento Herança Campeira. No domingo, teve churrasco e torneio de futebol.

Histórico

A área foi ocupada em 1997 por cerca de 400 famílias. Agora está em fase de desenvolvimento do PDA (Plano de Desenvolvimento de Assentamento), na transição para o futuro assentamento. Ainda faltam alguns ajuste do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), mas 545 famílias devem ser assentadas no local, que tem cerca de 13.600 hectares. Os lotes terão em média de 12 a 13 hectares, variando de acordo com a declividade da terra.

O local do futuro assentamento está numa região privilegiada, com um clima tropical, solo de qualidade, possibilitando uma boa produção. Na safra do ano passado, as famílias produziram cerca de 237 mil sacas de milho, 66 mil sacas de feijão, 2.500 sacas de arroz, 8.050 sacas de trigo, 500 toneladas de mandioca, além de produção para auto-sustento como: gado, suínos, caprinos e aves.

Acampadas há 9 anos, as famílias comemoram a realização do assentamento. “Quando vemos o assentamento se tornar realidade o sonho dos trabalhadores vai mudando. As pessoas querem melhorar a moradia, o transporte e a própria alimentação”, afirma Mário.

Carlos Ramos de Mato, que trabalhava como arrendatário, relembra como a vida da família melhorou depois que foram para o acampamento. “Eu trabalhava como arrendatário e pagava 30% de porcentagem. Se tivesse ficado lá não sei se iria para cidade ou outro lugar, porque não sobrava nada. Quando entramos no movimento a vida da família mudou muito. O fizemos aqui é nosso”, constata.

A esposa de Carlos, Maria Aparecida Harthman de Matos explica, que no início as famílias passaram por algumas dificuldades, como morar num barraco de lona, mas continuaram na luta pela vontade de ter um pedaço de terra. “Sonho muito em ter a nossa casa e umas vacas”, explica.

As filhas do casal Jessica e Jaqueline de Matos, de 13 e 11 anos, que sempre viveram no campo, afirmam que não ter vontade de morar na cidade. Elas querem estudar para ser professora e dar aula no assentamento.

O pré-assentamento conta com uma escola de ensino fundamental e médio, voltada para a realidade das famílias Sem Terra. Um posto de saúde, com médico que atende três vezes por semana, uma auxiliar de enfermagem e agentes de saúde que fazem atendimento nas casas das famílias. Também há uma farmácia alternativa e uma horta medicinal. O posto de saúde adota o remédio alternativo nos tratamentos.

Quando for legalizado pelo Incra, o assentamento será divido em seis comunidades. O local terá uma área central, para onde será transferida a escola, posto de saúde, mercado comunitário e construído uma agroindústria. Também está em fase de implantação um projeto de recuperação de áreas permanentes ambiental.