Sem Terra de SC comemoram decisão da Justiça de manter desapropriação

Depois de quatro anos acampadas, 80 famílias do MST de Santa Catarina comemoram a conquista da terra. O acampamento Pátria Livre, que passou por Abelardo Luz, foi dividido em dois no ano 2004. Uma parte das famílias foram para Campo Erê, extremo oeste do estado, e outra parte para Corrêa Pinto, no planalto serrano de SC, em duas áreas que o Incra havia vistoriado e desapropriado, respectivamente para fins de Reforma Agrária. Os proprietários das duas fazendas entraram na justiça pedindo a anulação do processo de desapropriação. O processo da fazenda Caldato em Campo Erê, continua na justiça. Porém, a fazenda São Roque em Corrêa Pinto será o mais novo assentamento conquistado pelos Sem Terra catarinenses. No último dia 14, o Presidente do Supremo Tribunal Federal manteve o decreto de desapropriação da área.

Desde o final de 2004, quando chegaram em Corrêa Pinto, os Sem Terra sofreram todos os tipos de discriminação. A região é uma das mais conservadoras do estado, cercada pelo latifúndio atrasado. Ao receberem a notícia de que a fazenda havia sido desapropriada, os proprietários tentaram dividi-la alegando um inventário de herança e entraram na justiça pedindo a anulação do processo de desapropriação da mesma. Os Sem Terra tiveram que sair da área e acamparam às margens da rodovia BR 116. Foram muitos desafios. O frio, a chuva, várias mobilizações, muitas famílias desistiram.

Uma das cenas mais chocantes aconteceu no último dia primeiro de junho. O professor da escola do acampamento, Paulo Cesar da Costa , sofreu uma tentativa de homicídio. Ele recolhia pinhão e lenha junto com Francisco José Siqueira Neto, também integrante do acampamento, quando foi abordado por dois homens a cavalo, um deles o proprietário da fazenda. O fazendeiro apontou um revólver e obrigou os Sem Terra a deitarem no chão. Depois de alguns instantes, chegaram outros dois pistoleiros, um deles filho do latifundiário. Como relatou o próprio Paulo Cesar, “Ele perguntou quem éramos. E após receber a resposta: Sem Terra, me atacou com um canivete dizendo ‘então matamos aqui mesmo’. Ainda sob a mira do revólver, ele me imobilizou e cortou minha orelha esquerda. Em seguida tentou me degolar”, lembra o trabalhador rural. Os dois Sem Terra saíram correndo em meio a tiros e conseguiram escapar. Mesmo sofrendo tentativa de homicídio, eles foram presos. Após a intervenção de advogados e deputados que apoiam a luta pela Reforma Agrária, os Sem Terra foram libertados.

Apesar dos desafios enfrentados, sofrendo discriminação e até tentativa de homicídio, a luta valeu a pena. No dia 14 de junho o STF concedeu ganho de causa aos Sem Terra. Quando receberam a boa notícia, as famílias do acampamento Pátria Livre realizaram uma caminhada pelas ruas de Corrêa Pinto, em comemoração à conquista do sonho de ter a terra para viver e produzir a própria existência.