Quilombolas são presos em áreas da Aracruz Celulose no ES

Na segunda-feira (17/07), 85 quilombolas foram detidos pela Polícia Militar por colherem restos de eucalipto em uma área da empresa Aracruz Celulose, em Córrego do Farias, município de Linhares (ES). Após a ação de reintegração de posse em favor da empresa, eles foram levados para o Departamento de Polícia Judiciária (DPJ) do município, acusados de desobediência judicial por continuarem na área.

O delegado da comarca de Linhares, sob orientação do juiz Vanderley Ramalho Marques, obrigou os quilombolas a assinarem um Termo Circunstanciado, pelo qual assumiriam seu descumprimento da ordem judicial. Os detidos, recusando-se a assinar o termo, foram humilhados e agredidos. Segundo Isaías Santana, coordenador nacional do Movimento de Direitos Humanos no ES, “as pessoas foram espancadas, humilhadas, agredidas com bombas de gás e algumas, inclusive, atingidas por balas de borracha”, relata Isaías. Após a assinatura do termo, as pessoas foram liberadas.

“Conflitos como esse tendem a continuar”, afirma Isaías Santana. “As comunidades quilombolas não querem apenas resíduos de eucalipto, mas a recuperação de suas terras, tomadas pela Aracruz”, explica.

Atualmente, existem 1.500 famílias quilombolas no Espírito Santo, divididas em 35 comunidades. Antes da chegada da Aracruz, eram 15 mil famílias, que foram migrando para os centros urbanos à medida que avançava o plantio de eucalipto sob suas terras. As comunidades que permaneceram no campo sobrevivem encurraladas em meio ao eucaliptal, impossibilitadas de explorar a agricultura básica. Por esse motivo foi criada uma associação de lenhadores e pequenos produtores de carvão, que aproveitavam a venda do resíduo do eucalipto para sua subsistência.

A própria empresa manteve esse acordo com a associação. Após o corte do eucalipto, os quilombolas poderiam catar os resíduos. No entanto, há três anos vem sendo feito um estudo para demarcação do território quilombola no ES e algumas áreas já foram identificadas pelo Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária). Estimativas apontam que o território quilombola tem cerca de 250 mil hectares, que é, aproximadamente, a mesma área da Aracruz no estado.

Além dos estudos demarcatórios de sua área, as comunidades estão se organizando para a recuperação de suas terras. Um exemplo disso é a constituição da Comissão Quilombola do Sapê do Norte, que busca integrar todas as comunidades na luta por seu território original.