Fórum da Tríplice Fronteira reúne movimentos no Paraguai

Cerca de 3 mil pessoas, representantes de organizações sociais participaram, em Cidade del Leste, no Paraguai, do II Fórum Social da Tríplice Fronteira. De 21 a 23 de julho, representantes dos movimentos sociais da região (Brasil, Argentina, Paraguai) defenderam a soberania e a integração solidária dos povos. A luta contra a militarização, a dívida externa, a Alca (Área de Livre Comércio) e os Tratados de Livre Comércio também foi marcante no Fórum.

Entre os presentes estavam representantes das famílias camponesas paraguaias, que estão enfrentando uma forte repressão por parte do governo do presidente Nicanor Duarte Frutos. Mortes, sequestros e torturas estão entre as estratégias para conter as mobilizações, como ocupações de terra e bloqueio de estradas.

O Fórum contou também com a participação da comunidade árabe de Cidade del Leste. Eles exigiram o fim dos ataques ao Líbano e Palestina e denunciou o avanço do Tratado de Livre Comércio entre o Mercosul e o Estado de Israel.

Durante os três dias, o Fórum se mostrou como um espaço de intercâmbio e articulação das lutas dos movimentos sociais da região diante ao avanço da militarização e a presença de tropas estadunidenses no Paraguai. Além dos estudos do Banco Mundial sobre o Aqüífero Guarani, que tem como objetivo se apropriar deste bem natural.

Leia abaixo o documento frutos dos debates da Assembléia dos Movimentos Sociais que aconteceu no último dia de atividades do Fórum.

– Denunciamos e rechaçamos a tentativa do congresso dos Estados Unidos – a pedido de George W. Bush – de sancionar uma lei que solicita à Organização dos Estados Americanos (OEA) a formação de uma força militar antiterrorista para atuar na Tríplice Fronteira (Argentina, Brasil, Paraguai) atentando contra a soberania e a autodeterminação dos Povos da região.

– Exigimos a não renovação do Convênio de Imunidade das Tropas dos Estados Unidos por parte do governo do Paraguai, que desde sua assinatura tem incrementado a criminalização da luta social, por meio de mortes e desaparecimentos de dirigentes sociais. Sabemos que a militarização e a criminalização de lutadores e lutadoras do povo têm, entre outros objetivos, a apropriação do Aqüífero Guarani, pois a água é um bem natural em disputa no mundo por parte das grandes empresas transnacionais, com a cumplicidade do Banco Mundial e o Banco Interamericano de Desenvolvimento.

– Denunciamos também o pagamento da dívida externa ilegítima da Binacional Itaipú e Yasyretá, que consome grande parte do orçamento público do Paraguai, aprofundando a dívida social e ecológica com seu povo. Exigimos seu cancelamento incondicional por parte dos governos do Brasil e Argentina.

– Exigimos o respeito à autodeterminação do povo haitiano e a retirada de todas as tropas estrangeiras que ocupam o território deste país irmão.

Convocamos às organizações populares a repudiar ativamente as novas tentativas imperialistas de acentuar a militarização da região com todas as suas nefastas conseqüências para a vida de nossos povos. Chamamos a expressar a mais ativa solidariedade com os povos da Palestina, Líbano, Iraque e Afeganistão, vítimas da agressão e da guerra imperialista.

Lutamos e seguiremos lutando pelo exercício pleno de nossos direitos, por nossa vida e em defesa dos nossos bens naturais contra a destruição do planeta que habitamos, pela soberania de nossos países e a retirada de todas as tropas estrangeiras, guardiãs de um projeto integral de dominação. Trabalhamos pela solidariedade e união de nossos povos. Nós não somos terroristas. Terroristas são eles, os imperialistas norte-americanos, seus sócios e os governos cúmplices. Terroristas são os que massacram os povos, os que seguem militarizando o mundo para saquear nossos recursos. Nós estamos dispostos e dispostas a trabalhar juntos, a fortalecer nossa união para abrir caminho para a Paz e a Justiça para todas e todos.

Cidade del Leste, 23 de julho de 2006