Cooperativismo no País Basco é exemplo para Sem Terra

Em 1956, cinco alunos da Escola Politécnica de Mondragón, no País Basco, abriram uma fábrica de aquecedores. Em 1959, foi a vez de uma cooperativa de casas populares. Mais de 50 anos depois, cerca de 80 mil pessoas estão trabalhando na Mondragón Corporação Cooperativa (MCC), que tem no cooperativismo e na mudança social suas bases de atuação.

Em 1956, cinco alunos da Escola Politécnica de Mondragón, no País Basco, abriram uma fábrica de aquecedores. Em 1959, foi a vez de uma cooperativa de casas populares. Mais de 50 anos depois, cerca de 80 mil pessoas estão trabalhando na Mondragón Corporação Cooperativa (MCC), que tem no cooperativismo e na mudança social suas bases de atuação.

“Começamos com um projeto mais educativo, buscando trabalhar pela solução das injustiças sociais. Depois, vimos que a fazer empresas cooperativas poderia ser um bom impulso para poder transformar esse sonho em realidade”, afirma o pesquisador Andoni Mujica Ulavia.

Ulavia esteve no Brasil para trocar experiências sobre cooperativismo com o MST. Há seis anos, os Sem Terra visitam a Universidade de Mondragón para estudar. Hoje a MMC tem cinco centros de formação e três de pesquisa e tecnologia. Veja abaixo a entrevista com Ulavia:

Como funciona a MMC?

Andoni Mujica Ulavia: Temos mais de 50 anos de experiência com cooperativismo. Começamos com um projeto mais educativo, buscando auxiliar os que sofrem e trabalhar pela solução das injustiças sociais. Depois, vimos que a fazer empresas cooperativas poderia ser um bom impulso para poder transformar esse sonho em realidade. O cenário então era muito deprimente depois da Guerra Civil espanhola, que causou muito sofrimento após a vitória do general Franco. Nesse caldo de cultivo nasce esse primeiro movimento cooperativo, que hoje é o mais importante da Espanha.

É um movimento do campo e da cidade?

Ulavia: È um movimento principalmente da cidade. Existem cooperativas agrícolas, mas a maioria está no setor de serviços, financeiro e industrial. Nesse momento, cerca de 80 mil pessoas estão envolvidas no movimento.

É um movimento forte que tem seus êxitos: conseguimos criar empregos de qualidade. Temos uma justiça social abrangente em nossa região. Porém também temos temas pendentes como a necessidade de revitalizar os princípios que foram a origem e o motor de tudo isso.

Existem movimentos sociais hoje no País Basco?

Ulavia: Sim. E com mais força e intensidade que na Espanha porque há uma sensibilidade especial que tem origem em nossa cultura de lutar por nossa identidade. Isso gera uma sinergia para poder abordar outras lutas. A principal luta hoje no País Basco é pela identidade do povo.

Como é a relação com o MST?

Ulavia: A relação começou há seis anos com encontros informais. Depois dos primeiros contatos, todos os anos integrantes do MST vêm à universidade de Mondragón trocar experiências. A partir daí, cada vez mais afinamos e sedimentamos essa relação de intercâmbio do trabalho do Movimento com o nosso trabalho. Nos centramos em três tipos de acompanhamento: um bloco central de metodologia, para poder implantar novas iniciativas produtivas a partir da metodologia; um segundo sobre ferramentas do sistema cooperativo; e um terceiro bloco sobre o sentido do cooperativismo dentro de um projeto mais profundo de transformação social, de justiça e de respeito à pessoa.

Qual é a estrutura do curso?

Ulavia: São dois meses de estadia de 18 integrantes do MST em um espaço de vivência universitário, acompanhados por diferentes agentes do grupo cooperativo de Mondragón, que também são especializados em ferramentas de justiça e cooperação e de atividades produtivas.

Vocês também vêm ao Brasil?

Ulavia: Eu participo de um grupo de estudos corporativos da própria universidade. Tanto educando nossos como companheiros de trabalho vêm ao Brasil. Agora estou aqui pensando em um novo curso com o MST.

Como é o cooperativismo na Europa?

Ulavia: Ele existe em várias regiões: na Espanha, Itália, Inglaterra e na França, onde há um movimento de pequenos agricultores muito interessante. Eu acho que a característica singular que temos em Mondragón reside em termos sido capazes, durante esses 50 anos, de organizar toda nossa vida através de cooperativas, desde a escola, finanças, combustíveis, indústrias. Mais que as cifras e os números, o grande avanço de Mondragón é na questão da autogestão para abordar diferentes setores que ocupam nossas vidas.