Um grito de revolta e ação

Por Gisele Barbieri
Agência Brasil de Fato

No próximo dia 7 de setembro, os brasileiros assistirão a algo mais do que os tradicionais desfiles cívico e militar realizados para celebrar o Dia da Independência. Como ocorre desde 1995, na Semana da Pátria, os movimentos sociais farão o protesto do Grito dos Excluídos. Neste ano, o diferencial será o calendário eleitoral, que abre – do ponto de vista dos organizadores – uma possibilidade mais concreta de propor modificações, pelo processo eleitoral que será realizado em outubro.

Políticas contra o desemprego, a anulação da privatização da Companhia Vale do Rio Doce, a campanha pela redução nas tarifas de energia e um pedido por ética dos políticos brasileiros são alguns dos temas que estarão presentes nos manifestos realizados em todo o país.

Sistema político

Em sua 12ª edição, o Grito do Excluídos quer o fim da corrupção e a punição dos envolvidos nos sucessivos escândalos políticos como o Mensalão; caixa dois na arrecadação de recursos para as campanhas eleitorais; negociações envolvendo não só integrantes do governo Lula, mas também parlamentares de partidos aliados e de outros partidos políticos, que atolaram o Congresso Nacional desde o início deste ano.

A corrupção, no entanto, não está restrita a Brasília. Chega também aos municípios, como revelaram as descobertas da última Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos sanguessugas, que investiga o desvio de dinheiro do Orçamento para a compra de ambulâncias superfaturada por prefeituras. Estima-se que, desde 2001, R$ 110 milhões tenham sido desviados. Dinheiro que hoje falta para os investimentos sociais, como a área da educação e da saúde que recebem freqüentes cortes de recursos do orçamento.

O tema principal do Grito dos Excluídos em 2006 será “Brasil: na força da indignação, sementes da transformação”. “Esse slogan tem a ver com a ética na política. A indignação também é contra a exclusão social, que continua grande, mas também contra a própria política econômica que estamos vivendo”, diz, Luiz Basségio, coordenador nacional do Grito dos Excluídos. Para ele, há um sentimento de insatisfação com a política que não atende à maior parte da população brasileira, mas sim ao capital financeiro, aos bancos. “Queremos uma política diferente, voltada para a soberania do país, para a construção de um projeto popular para o país”, explica.

Segundo organizadores, o Grito terá a preocupação de não reproduzir a visão repercutida pela grande mídia corporativa de que a corrupção e as injustiças sociais nasceram e foram disseminadas apenas neste último governo.

A coordenação do manifesto comemora o fato de que nunca houve manipulação político partidária, conservando o ato distante de partidos políticos e sindicatos. “Isso é o mais positivo no grito, por não estar vinculados a partidos políticos a organização do grupo, mantendo a independência dos movimentos sociais na luta popular. É diferente do cenário que a gente vê no país, onde os partidos políticos acabaram se sobrepondo a questão dos movimentos sociais”, lembra Davi Amorim, integrante do setor de comunicação do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis de São Paulo.

Discutir com o povo

Na semana que antecede o dia 7 de setembro, mobilizações são realizadas em todas as localidades, como preparação para o Grito. São atos públicos para debate, onde as populações conhecem os problemas em seu município e Estado.

“Queremos passar para a sociedade que a gente não parou diante de toda esta sujeira política que está aí. A gente não pode fechar os olhos e nem cruzar os braços, precisamos nos fortalecer na luta junto com outros grupos que também precisam deste fortalecimento”, avalia Angelina Aparecida dos Reis, integrante da Casa de Solidariedade em São Paulo, que trabalha em apoio aos desempregados e ao movimento negro.

A conjuntura eleitoral traz um componente animador para as organizações que participam do protesto. “O Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) participa do Grito dos Excluídos desde o início, mas o deste ano talvez seja o mais importante, pois estamos em um momento eleitoral, onde passaremos por um debate político e teremos a oportunidade de discutir com a comunidade suas condições de vida e alternativas de como romper este processo de exclusão”, analisa Leonardo Maggi, integrante do Movimento dos Atingidos por Barragens(MAB).

Estas discussões irão integrar o grande debate proposto pela Assembléia Nacional Popular, uma ampla articulação