Stédile quer universalização da educação

Por Daniel Gallas
Fonte BBC Brasil

Um dos principais líderes do Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST), João Pedro Stédile, defendeu a ampliação do acesso à educação como a prioridade em que o Brasil deve investir até 2010.

“Você pode dar a um camponês só a terra, mas ele vai continuar sendo ignorante e manipulado”, afirmou Stédile quando questionado por que havia não escolhido a distribuição de terra como principal tema com o qual o país deve se ocupar nos próximos anos.

Confira abaixo a entrevista de Stédile:

O que o senhor gostaria de ver diferente no seu setor no Brasil em 2010?

João Pedro Stédile – Eu gostaria de ver a universalização do acesso à escola em todos os níveis no Brasil. Gostaria de ver a alfabetização dos 15 milhões de brasileiros adultos analfabetos, que é uma dívida social, e que fosse garantido o acesso ao ensino médio para todos os jovens.

Hoje apenas 50% dos jovens ingressam no ensino médio. Destes, apenas 50% se formam. E, por fim, gostaria que todos os jovens que se formam no ensino médio tenham acesso à universidade pública. Infelizmente, hoje apenas 8% dos jovens entram no ensino superior público. Esse é o maior sonho que pode libertar o nosso país.

É curioso que o senhor trabalha com o setor rural, mas a sua principal reivindicação é em outro setor, o da educação. Por que isso?

Stédile – A educação também é nossa bandeira. Só distribuir a terra, só garantir que os pobre trabalhem para si, isso não resolve nem o problema da pobreza, nem o problema da desigualdade. É por isso que o MST defende como bandeira que os camponeses tenham direito à terra, acesso a escola – que é o que libertá-los, levá-los ao conhecimento e torná-los cidadãos.

Você pode dar a um camponês só a terra, mas ele vai continuar sendo ignorante e manipulado. A última das bandeiras é a produção de alimentos saudáveis, livres de agrotóxico.

A educação fornecida pelo governo tem esbarrado nos limites das contas públicas. O senhor vê isso como um obstáculo para universalizar a educação?

Stédile – De jeito nenhum. Em primeiro lugar, outros países mais pobres do que o Brasil, como a Bolívia, com 28% dos jovens na universidade, e como Cuba, com 100%, são países bem mais pobres do que nós.

O direito à educação não depende de dinheiro público, depende de prioridade da sociedade. Assim como cada família decide dar educação a seus filhos, o governo também deveria assumir essa responsabilidade.

Além disso, esse discurso de que não tem dinheiro é apenas um discurso ideológico nessa fase do neoliberalismo, em que o capital financeiro tomou conta do Estado.