Fazenda com trabalho escravo é inspecionada no sudeste do Pará

Com informações de Rogério Almeida

Titulação duvidosa, crime ambiental, reincidência em manter trabalhadores em condições análogas à escravidão e excelência em gado. Eis alguns dos ingredientes que integram a história da fazenda Peruano, área da empresa Jorge Mutran Importação e Exportação Ltda, em Eldorado dos Carajás, sudeste do Pará.

Nas últimas duas semanas, técnicos do ITERPA (Instituto de Terras do Pará), do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) e da Delegacia Regional do Trabalho, com apoio de policiais, inspecionaram a área de cerca de 12.500 hectares.

A fazenda Peruano, junto com as fazendas Cabaceiras e Baguá, também da família Mutran, estão “lista suja” do MPT (Ministério Público do Trabalho), pela manutenção de trabalhadores em condições degradantes, 143 no total. Em 2004, o MPT conferiu a empresa Jorge Mutran Importação e Exportação Ltda multa de R$ 1.350.440,00. A multa foi dada pela reincidência em uso de mão obra escrava nas fazendas. Na época, foi a maior já expedida no país.

Área ocupada bate recorde de produção

Desde 17 de abril de 2004, mais de mil e cem famílias Sem Terra ocupam parte da fazenda, que só possui a titulação de 3.600 hectares. No acampamento, o Movimento montou uma escola que atende 350 crianças com ensino até a 7a série e as famílias Sem Terra já possuem grande produção agrícola, principalmente de arroz.

“Batemos o recorde de produção no município. Produzimos maior quantidade de arroz e feijão do que as outras áreas. No ano passado saiu daqui para comercialização dez mil sacas de arroz, só do Acampamento Lourival Santana”, afirma Ivagno Silva, da coordenação do acampamento.

Histórico

Em 1999, o Movimento já ocupava outra propriedade da família Mutran, a Cabaceiras, no município de Marabá (PA). No local, há denúncias da existência de um cemitério clandestino, que nunca foi apurada. Ossadas foram coletadas e nunca se ouviu falar no resultado do laudo pericial. A área é considerada ainda hoje um símbolo na expressão das oligarquias paraenses.

A violência do latifúndio permanece. No ranking de trabalhadores libertados de cativeiros em fazendas e execução de sem-terra, sindicalistas, religiosos e apoiadores da Reforma Agrária, o Pará é o primeiro.

No mesmo rastro, o estado ocupa o topo em crimes impunes. Apenas a mobilização de uma rede de apoiadores da Reforma Agrária e dos direitos humanos tem possibilitado que alguns casos cheguem a julgamento. Um exemplo é o assassinato de José Dutra da Costa, o Dezinho, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais do município de Rondon do Pará, que vai em novembro para o Tribunal do Júri. O crime ocorreu há seis anos.

Rogério Almeida é colaborador da rede www.forumcarajas.org.br