Entidades lançam o Fórum Gaúcho pela Reforma Agrária

Sindicatos, organizações sociais da cidade e do campo, pastorais sociais, entidades de classe e instituições do governo fundaram hoje o Fórum Gaúcho pela Reforma Agrária. Em uma audiência pública realizada pela CMS (Coordenação dos Movimentos Sociais) na Assembléia Legislativa, em Porto Alegre (RS), representantes das organizações ressaltaram a importância de trazer o debate sobre da Reforma Agrária para a população urbana e das entidades fazerem ações conjuntas para pressionar o assentamento de famílias sem-terra no estado.

Celso Woyciechowski, presidente da CUT (Central Única dos Trabalhadores) no Rio Grande do Sul, relata que o Fórum terá como funções prioritárias fomentar a discussão da Reforma Agrária entre as organizações urbanas e buscar um maior diálogo com o Poder Judiciário. Para o sindicalista, a Justiça tem funcionado como um obstáculo no assentamento de famílias sem-terra gaúchas.

“O Fórum precisa criar condições de realizar a Reforma Agrária, buscando diálogo com o Judiciário, fazendo debates com a imprensa e com entidades urbanas, pois a questão da não se limita aos trabalhadores do campo”, explica.

Clarice Dal Medico, representante da CNBB (Confederação Nacional dos Bispos do Brasil) argumenta que o Fórum deve mostrar a relação entre a falta da Reforma Agrária e a pobreza nos grande centros urbanos. Ela explica que a concentração de terra e a expansão de novas monoculturas, como a de florestas exóticas, só faz com que os pequenos agricultores deixem o campo e sigam para as cidades.

“Não há possibilidade de continuar dizendo que o Rio Grande do Sul é um estado rico se há milhares de pessoas passando fome. Nós temos um processo de êxodo rural muito grande que enche as cidades e as vilas onde a CNBB atua, e que pega somente o resultado do neoliberalismo, da atuação do capital no campo. Não tem mais como a gente continuar achando que a grande propriedade é a solução para a agricultura, pois não é. Nós temos os exemplos das três fazendas [Southall, em São Gabriel; Coqueiros, em Coqueiros do Sul; e Cabanha Dragão, em Eldorado do Sul] que os meios de comunicação apresentam como exemplos de desenvolvimento, mas não são”, defende.

No entanto, somente fazer a Reforma Agrária não garante a fixação do homem no campo. Mozart Dietrich, superintendente regional do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), enfatiza que o desenvolvimento da agricultura familiar, com políticas e incentivos públicos, deve acompanhar o processo de desapropriação de terras. Mozart coloca como exemplo as regiões norte e sul do RS. O norte, baseado em minifúndios familiares, é considerado a parte rica, enquanto o sul, formado por latifúndios, hoje enfrenta uma grave crise.

“Nós entendemos que não precisamos olhar para outros países para justificar a realização da Reforma Agrária no Brasil ou nas regiões; basta olhar para dentro da nossa própria terra. Quando se fala da diferença do nosso estado, do Norte rico e do Sul pobre, a justificativa é simples: é porque no Sul, na região do Pampa Gaúcho, não foi feita a Reforma Agrária”, diz Dietrich. Além dos sindicatos de trabalhadores e das organizações feministas, estudantis, indígenas e negras que compõem a CMS, constituem agora o Fórum Gaúcho pela Reforma Agrária a CNBB, o Incra, a Ordem dos Advogados do Brasil e parlamentares apoiadores.