Transnacionais dominam riquezas energéticas da América do Sul

Por Marcelo Netto Rodrigues
Fonte Minga Informativa

A única integração energética que encontramos hoje no continente sul-americano é a integração das empresas transnacionais. No lugar de povos integrados através de suas abundantes fontes energéticas, o cenário é o da exploração de energia como mercadoria, e não como uma espécie de direito humano ampliado disponível à sua população.

A tônica sintetizada acima na fala de Pablo Bertinati, representante do Cono Sur Sustentable, na sessão da Cúpula dos Povos que teve como tema “Energia – integração e alternativas energéticas”, não é demagogia esquerdista. A Cúpula Social pela Integração dos Povos começou ontem em Cochabamba, na Bolívia.

O Paraguai, por exemplo, maior produtor de energia do continente, “não é capaz de fornecer luz para quem precisa dentro do seu próprio país”, como relata um camponês – crítico à falta de transparência dos contratos da Usina de Itaipu.

O mesmo acontece com a Argentina, que viu as suas reservas de petróleo e gás – nos últimos anos Menem – serem reduzidas a uma capacidade de prover o país somente até 2014, como conta Elena Hanono, do Partido Comunista Revolucionário Argentino. Para se ter uma idéia da dimensão do saque, contabiliza Hanono, “as transnacionais petrolíferas levam embora do país US$ 12 mil dólares por minuto, o equivalente a uma casa popular”, diz ela.

“A política de depredação conduzida por transnacionais como Repsol (da Espanha) e Petrobras (do Brasil) também produziu milhões de esocupados e cidades fantasmas, abandonadas pelos petroleiros das empresas statais que antes viviam nelas ao perderem seus empregos” continua Hanono, para quem a melhor forma de demonstrar solidariedade à Bolívia neste momento, é que cada país sul-americano lute pela nacionalização de seus hidrocarburetos.

Petrobras – transnacional como qualquer outra

Para o representante da Federação Única dos Petroleiros/CUT, presente na discussão, Aldemir de Carvalho Caetano, “a Petrobras é uma transnacional e deve ser tratada como tal; é uma empresa imperialista que não perdoa nada, que tem como lógica apenas o lucro e defende os interesses do capital nos países em que atua”.

Caetano exemplifica que 60% do gás brasileiro vêm da Bolívia, e que o Brasil paga somente 1/3 do preço internacional por ele. “Não é justo com o povo boliviano”. Para tentar reverter a situação, Caetano fala de uma futura pressão binacional para transformar a Petrobras em uma empresa de responsabilidade fiscal.

Uma boliviana pede a palavra – deixa claro que não pertence ao Movimento ao Socialismo (MAS) – e conta a história de sua infância: “Lembro dos meus pais dizendo que um dia os recursos naturais voltariam a ser dos povos (…) Lembro do discurso oficial que se ousássemos algum dia fazer isso, as transnacionais não iriam renovar os contratos e a pobreza iria aumentar (…) que se exigíssemos mais do que 51% do controle em nossas mãos, seria um ato irresponsável (…) Para mim, a nacionalização dos hidrocarburetosera algo como um sonho que nunca iria se cumprir. Agora, pergunto: Se a Bolívia, que sempre foi discriminada e marginalizada, conseguiu, por que os outros países não podem fazer o mesmo?”.