Povos indígenas enviam declaração aos presidentes da América do Sul

Por Marcelo Netto Rodrigues
Fonte Minga informativa

Numa assembléia de dar inveja à classe política profissional, lideranças dos povos indígenas presentes na Cúpula Social aprovaram uma declaração que será entregue aos presidentes da América do Sul. Além desta, os 11 chefes-de-Estado que já confirmaram presença na II Cúpula da Comunidade Sul-Americana de Nações (CSN), que começa hoje também em Cochabamba, na Bolívia, irão receber uma carta-apoio que respalda as lutas do povo boliviano e o presidente Evo Morales.

Sob o título “Comunidade Sul-Americana de Nações para ‘viver bem’ sem neoliberalismo”, o “chamamento” – como foi identificado o documento para diferenciá-lo de uma proposta oficial – foi aprovado por unanimidade em plenária e referendado com a assinatura das pessoas presentes. “Isso para que não digam que esta Cúpula é do Evo, mas sim nossa”, disse uma das lideranças ao microfone.

A aprovação aconteceu após a mesa organizadora garantir que ao texto seriam acrescentadas às recomendações que surgiram ao longo do debate. Como por exemplo: o uso ou não da palavra América no lugar do nome original do continente – Abya Ayla ––, o pagamento de indenização aos povos indígenas por parte dos países colonizadores (Portugal, Espanha, Inglaterra, e outros), a inclusão dos nomes de muitos outros heróis da luta dos povos indígenas que ainda são pouco conhecidos, a inclusão da discussão de gênero e a concretização de uma moeda única para os países sul-americanos. Houve também um pedido para que a CSN leve em conta a tradição da “oralidade” dos povos indígenas em seus espaços de debate.

Olhos indígenas

Nessa espécie de assembléia era visível que “A integração da América do Sul a partir do olhar dos povos indígenas” – nome da sessão temática – anda a passos largos e fortes. Na mesa, mais de 15 representantes. Desde quéchua bolivianos a Mapuche chilenos. De Aymara peruanos a Guarani Kayowá brasileiros.

“A profecia de Túpac Catari se concretiza”, disse uma liderança peruana ao subir ao palco. Ao morrer, em 1781, Catari, traído após organizar um exército de 40 mil indígenas em La Paz vaticinou: “Eu voltarei, e serei milhões”.

Um outro participante, quéchua de Cochabamba, diz logo em seguida no microfone: “Um homem não pode vender, nem traficar a sua mãe (…) Então, não podemos deixar que isso aconteça com nossa Pacha Mama”, conclamando todos à defesa da Mãe Terra Sul-Americana, espoliada há mais de 500 anos.

O escritor peruano José Carlos Mariátegui também foi citado: “temos de ter em mente que a luta dos povos indígenas de nossa América Latina deve estar sempre atrelada à luta dos camponeses e dos operários”. E por fim, a receita recebida com aplausos: “Os povos devem permanecer de pé, enquanto a oligarquia deve ser posta de joelhos”.