Via Campesina participa de Dia de Ação Global em solidariedade à Oaxaca

Em Oaxaca, no sul do México, a repressão aos movimentos populares cresce a cada dia. Centenas de pessoas foram presas, inclusive um representante da Via Campesina internacional. Outras dezenas estão feridas. Há mais de 120 desaparecidos e o necrotério municipal tem mais de 50 mortos sem identificação. A decisão de enviar helicópteros, tanques e quatro mil agentes da Polícia Federal Preventiva (PFP) foi tomada em 29 de outubro pelo presidente Vicente Fox, que teve o apoio de seu sucessor Felipe Calderón, e do governador do estado de Oaxaca, Ulises Ruiz Ortiz.

A operação militar é uma resposta violenta à luta que exige a saída do governador Ortiz há mais de cinco meses. ”Os grupos de defesa dos Direitos Humanos estão impedidos de atuar, já que grande parte de seus integrantes estão escondidos em escritórios fechados, sob a ameaça de serem atacados por grupos de pistoleiros. Uma igreja, que era usada como refúgio de cidadãos, foi metralhada e um sacerdote foi atacado. Essa semana também foram libertados os assassinos do jornalista estadunidense Bradley Roland Will, que são membros do grupo paramilitar de Ulises Ruiz. Os responsáveis por esses feitos bárbaros e pela violação sistemática dos direitos humanos são elementos da PFP. Toda essa situação gerou um clima de muito medo e temor na população”, afirma Carlos Beas Torres, coordenador da União de Comunidades Indígenas da Zona do Istmo.

Mesmo assim, em 1° de dezembro, milhares de pessoas saíram às ruas em sete mobilizações pacíficas para exigir a libertação dos presos e a apresentação com vida dos desaparecidos

No próximo domingo (10/12), Dia Internacional de Direitos Humanos, a APPO (Assembléia Popular dos Povos de Oaxaca), que reúne as organizações sociais que participam do levante, entre elas, entidades camponesas, indígenas, sindicais, de bairro e de professores, convocou uma ação global em solidariedade à Oaxaca.

Até essa data, é possível enviar manifestações aos representantes da Via Campesina no México. Na segunda-feira (11/12), será realizada uma coletiva com a imprensa internacional para divulgar os apoios que chegaram. Para participar, envie um correio eletrônico para [email protected]

Além disso, entidades e movimentos sociais solicitam que sejam enviadas cartas às embaixadas do México de cada país com reivindicando a saída de Ortiz; a retirada imediata da Polícia Federal Preventiva de Oaxaca; o fim da repressão; a apresentação, com vida, de todos os desaparecidos; o fim das prisões ilegais; o respeito irrestrito aos direitos humanos e de integridade de todos e todas; e o julgamento dos autores intelectuais e materiais dos assassinatos por meio dos grupos paramilitares do estado.

“Sabemos bem que o fundo desse conflito é a resistência de um grupo de indivíduos que governaram Oaxaca nos últimos 77 anos e geraram pobreza, violência e sofrimento para milhares de pessoas. A luta em Oaxaca não é apenas para derrotar um governante violento e déspota, mas para estabelecer novas condições de vida, onde homens e mulheres possam viver em paz, com justiça e dignidade”, diz Torres.

Histórico

Oaxaca é um dos estados mais pobres do México e tem sua população majoritariamente indígena. Desde o início do ano os professores da rede pública de ensino pediam melhorias nas condições de trabalho e aumento do salário. Em 14 de junho, uma das escolas entrou em greve e os professores foram duramente reprimidos.

Em resposta, os movimentos sociais do estado se somaram às mobilizações e a demanda principal passou a ser a saída do governador Ruiz. Bloqueios de vias, ocupações de prédios públicos, rádios e TVs, passeatas e assembléias populares foram organizados.

Em 19 de junho foi formada a APPO, que desde então reivindica a substituição do Estado mexicano pelo poder do povo, organizado de baixo para cima em assembléias locais.