Brasil não deve atingir Metas do Milênio

Por Raquel Casiraghi
Fonte Agência Chasque

Caso não ocorram alterações nas políticas econômicas e sociais, o Brasil somente conseguirá erradicar a pobreza no ano de 2282. De acordo com estudo publicado pelo Ibase (Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas), o endividamento do país pelo pagamento da dívida externa, a discriminação que existe nas relações de gênero e raça e o pouco crédito oferecido pelos bancos às classes mais pobres estão entre os motivos para que o país não consiga acabar com a miséria em menos tempo.

Luciano Cerqueira, pesquisador do Ibase, opina que os principais entraves para o crescimento econômico do país são os empréstimos com juros altos concedidos por organismos financeiros internacionais, como o FMI, e a evasão fiscal. Para o cientista político, a situação mudará com uma reestruturação do sistema financeiro tanto em escala mundial e dentro do próprio Brasil.

“A gente tem que rever no plano internacional: dívidas, relações comerciais e ajuda para o desenvolvimento, as relações comerciais estabelecidas entre os países hoje, elas são totalmente injustas, sempre privilegiando os países mais ricos e deixando o grande custo disto tudo para os países mais pobres. No plano nacional não temos para onde correr, nós precisamos rever esta história do superávit primário. Não dá para ficar separando alguns bilhões por ano para o pagamento da dívida [pública] e o que sobra a gente põe no social”, defende.

Se as expectativas do Ibase em erradicar a pobreza daqui há mais de 200 anos estiverem corretas, o Brasil ficará muito longe em atingir as “Metas do Milênio”. O acordo, firmado pela Organização das Nações Unidas (ONU) com o Brasil e mais cento e noventa e um países-membros da ONU, estima o crescimento dos países e a redução da pobreza até 2015. Na tentativa de cumprir com as metas do milênio, Luciano destaca a necessidade de realizar uma auditoria pública para ver se realmente a dívida externa ainda não foi paga e a efetivação da reforma tributária.

“Uma reforma tributária faria com que as pessoas que tem mais dinheiro paguem mais impostos. Infelizmente, o que a gente tem hoje no mundo e no Brasil, e está dentro da lei, é o fato de ser mais fácil as pessoas ricas não pagarem impostos, do que as pessoas pobres. Tanto os países, quanto os sistemas, estas instituições multilaterais, na verdade elas são sustentadas pelos que possuem menos recursos”, diz.

Mais informações e dados sobre a questão econômica brasileira e internacional podem ser encontrados na pesquisa “Arquitetura da Exclusão”, publicada pelo Instituto. Ela está disponível na página de internet www.ibase.org.br. Mais de 400 entidades da sociedade civil de 60 países diferentes organizaram o levantamento.