Estudantes ocupam empresa de eucaliptos em Minas Gerais

Do Brasil de Fato
Por Joana Tavares e Marcelo Pereira,
de Belo Horizonte (MG)

“Das praças, das ruas, a gente não saiu. Aqui está presente o Movimento Estudantil!”. Entoando palavras de ordem como esta, cerca de 200 estudantes universitários, participantes do 4º Estágio Interdisciplinar de Vivência (EIV) de Minas Gerais, ocuparam, durante seis horas do dia 19 de janeiro, a sede da Acesita, empresa siderúrgica do grupo transnacional Arcelor, maior produtor mundial de aço.

Os estudantes denunciam os grandes maciços de eucalipto mantidos pela empresa em terras devolutas do Vale do Jequitinhonha para a produção de carvão. E também alertaram para a relação promíscua da empresa com o governo Aécio Neves, reeleito pelo PSDB em Minas Gerais. No sítio eletrônico do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) consta que, só nas duas últimas eleições estaduais, a Acesita doou R$ 250 mil para a campanha do tucano.

A pauta de reivindicação dos estudantes incluía o resgate para a reforma agrária de 300 mil hectares de terras devolutas concedidas às transnacionais para a monocultura do eucalipto, o reconhecimento dos 11 milhões de hectares de terras devolutas no estado, e a retirada de dois projetos de emenda constitucional, PECs 75 e 100 /2004, que renovam e ampliam o limite da concessão de terras devolutas para a iniciativa privada de 250 para 2500 hectares.

“Nós somos estudantes de vários estados brasileiros e da América Latina, ligados ao Movimento Estudantil, em solidariedade às pautas dos movimentos sociais da Via Campesina e da Marcha Mundial de Mulheres”, afirma Alexandre Lima Chumbinho, da Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil (FEAB) e da comissão organizadora do EIV.

“Esse ano temos um desafio de trazer as pautas dos movimentos sociais, no sentido de unificar a esquerda brasileira, o que sempre foi o objetivo do EIV”, contextualiza Vanessa Aguiar Borges, estudante da Universidade Federal de Viçosa e membro da comissão organizadora do estágio.

Negociação

“Você tem que entender, eles invadiram a nossa casa, e a gente ainda tem que receber. Estamos perdendo uma tarde de sexta-feira, ficando sem expediente”, diz o gerente de comunicação da Acesita, Marcos Marçal. A empresa se recusou a negociar com os manifestantes enquanto eles não deixassem o prédio, e foi necessária a intervenção do governo do Estado para garantir a reunião.

O diretor-geral do Instituto de Terras de Minas Gerais (Iter), Luiz Chaves, participou da negociação entre os estudantes e a Acesita representando o governo mineiro. “O Iter tem um parecer contrário a essas propostas de emendas, que foram propostas pela bancada ligada ao agronegócio na Assembléia Legislativa”, declara o diretor.

No documento final da negociação, o Instituto se compromete a defender o arquivamento da proposta, resgatar para fins de reforma agrária as terras devolutas concedidas para a plantação de eucalipto e agendar uma audiência entre os movimentos sociais, os secretários de Meio Ambiente e de Reforma Agrária, com a presença do governador Aécio Neves, no prazo de no máximo dez dias.