Via Campesina forma trabalhadores em convênio com faculdade no RS

Apesar das críticas às políticas de cotas, diversas instituições de ensino superior vêm adotando programas que facilitam o acesso dos mais pobres às faculdades e universidades. O Centro
Universitário Ipa Metodista, em Porto Alegre, é uma dessas instituições que apostam nas políticas afirmativas como forma de inserção.

A Via Campesina do Rio Grande do Sul é uma das entidades conveniadas ao Ipa desde o início do programa. No ano passado, foram formados os primeiros integrantes, que deverão atuar nos diversos setores que compõe o movimento.

Lenir Watthier foi a primeira integrante do MST a concluir a faculdade, de educação física. Para ela, o programa é uma oportunidade dos movimentos sociais qualificarem a sua atuação, já que
o acesso às universidades públicas se restringe, cada vez mais, a quem tem condições financeiras de pagar cursinho pré-vestibular.

“É uma maior possibilidade das pessoas estarem se formando para contribuir depois em áreas específicas nos movimentos sociais. Não importa em qual área for. No caso da minha, é uma área que tem poucos formados e, em função das escolas existentes em acampamentos e
assentamentos, a necessidade é grande”, diz.

Na última semana, os dois primeiros indígenas cainguangues do programa de bolsas de demanda coletiva concluíram o curso superior. Outros 500 bolsistas do Movimento Sem Terra (MST), organizações não governamentais de negros, educadores populares, portadores de HIV e com as detentas do Presídio Feminino Madre Pelletier também freqüentam as aulas por meio do programa.

Francisco Cetrulo Neto, pró-reitor acadêmico do IPA, comemora o sucesso do programa depois de quatro anos em funcionamento. Para o professor, o maior ganho não está na conquista pessoal, do indivíduo cursar uma universidade, mas no bem que ele fará à comunidade da qual faz parte.

“Temos que perceber o seguinte: um indígena estar aqui conosco não é bom só pra ele que vai ter o título, que vai pra aldeia e depois irá beneficiar a sua comunidade, mas também os nossos outros alunos, os que não são beneficiados pelo programa. Porque uma interação cultural que existe entre esses bolsistas vai criar, na universidade, um ambiente de universalidade, de pensamentos diferentes, que irá auxiliar na formação dos nossos alunos. Dentro do perfil que nós queremos, do estudante preocupado com o social”, diz.

O programa de bolsas de demanda coletiva foi criado em 2003 e concede bolsas de estudos integrais a mais de mil entidades e movimentos sociais cadastrados junto ao Ipa. Depois de formados, os profissionais devem aplicar os conhecimentos aprendidos nas suas comunidades.

Durante a faculdade, os estudantes devem comprovar ao Ipa que trabalham 4 horas diárias em projetos das entidades. Dos quase 11 mil estudantes matriculados que o Ipa tem para 2007, 2,7 mil recebem bolsas, entre os programas de bolsas de demanda coletiva, individuais e do Pro-Uni.