Criação de camarão destrói áreas de preservação no Ceará

Da Agência Noticias do Planalto A carcinicultura, que é a produção de camarão em cativeiro, está crescendo desordenadamente em todo o Brasil, principalmente na Região Nordeste. De acordo com informações da Associação Brasileira de Criadores de Camarão (ABCC), existem aproximadamente 1000 fazendas que criam a espécie. Os lugares preferidos dos produtores são os manguezais por terem água com mais qualidade e não precisarem de bombeamento artificial.

Da Agência Noticias do Planalto

A carcinicultura, que é a produção de camarão em cativeiro, está crescendo desordenadamente em todo o Brasil, principalmente na Região Nordeste. De acordo com informações da Associação Brasileira de Criadores de Camarão (ABCC), existem aproximadamente 1000 fazendas que criam a espécie. Os lugares preferidos dos produtores são os manguezais por terem água com mais qualidade e não precisarem de bombeamento artificial.

Essa prática está assustando ambientalistas, pois sem o acompanhamento adequado, a carcinicultura está causando prejuízos ambientais que podem ser irreversíveis. Entre eles está a destruição dos manguezais, a degradação do ecossistema e a contaminação da água. Para saber mais sobre o assunto a Agência Notícias do Planalto, entrevistou Luciana Queirós, engenheira de pesca e integrante do programa Gestão Costeira do Instituto Terramar. Ouça agora a entrevista.

Luciana, como são formadas as fazendas para a criação do camarão? Como elas destroem o meio ambiente?

Inicialmente eles desmatam, queimam e depois vão para a fase de construção: cavam e constroem os viveiros e isso tudo já vai destruindo. O que acontece é que os criadores desconsideram os efeitos acumulativos da água. Por exemplo, na Bacia de Jaguaripi são 129 fazendas. A primeira fazenda capta a água que abastece os viveiros e o cultivo acontece no período de 120 dias, mas nesse intervalo essa água vai fazer o recircular, que é a despejo nos rios com os dejetos após a alimentação dos camarões. Nós queremos que por leis esses dejetos sejam tratados antes de serem jogados nos rios e não é isso que está acontecendo. Isso acaba comprometendo a cadeia alimentar nos mangues.

E onde e como está se desenvolvendo o mercado da carcinicultura no Brasil?

Especialmente no Nordeste, mais precisamente no Ceará a carcinicultura tem se desenvolvido. Aproximadamente 75% das fazendas criam camarão e estão sendo construídas em área de preservação permanente, que são as áreas de manguezal. Isso destrói todo o ecossistema. Até 2003 a carcinicultura veio crescendo e destruindo os manguezais, a partir daí – com o surgimento das doenças virais nos camarões – a atividade perdeu o seu crescimento e a taxa de sobrevivência dos camarões caiu muito. Isso devido à grande densidade em que cultivavam os camarões. E com o aparecimento das doenças, a produtividade caiu principalmente em 2004. Estamos identificando que a carcinicultura nos últimos anos entrou em uma crise ecológica e econômica.

A produção é permitida em áreas de preservação?

Em área de preservação permanente não podem ser construídos viveiros de camarão. Está na lei, mas não é isso que estamos identificando. Um diagnóstico feito pelo Ibama [Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis] identificou-se que 75% das fazendas do Ceará são construídas em áreas de preservação permanente, desrespeitando as leis do estado.

E como o Instituto Terramar se articula na luta para impedir o crescimento da produção de camarão em manguezais?

O que o Terramar tem feito é preparar as comunidades locais dos impactos que essas atividades podem trazer: o que é essa atividade, a lógica dela, como ela chega. Os carcinicultores chegam dizendo que a criação de camarão gera emprega e renda. Na realidade isso acontece, mas somente nos primeiros meses, depois acontece o que ocorreu no Ceará: fica tudo abandonado. Aqui no estado estamos desenvolvendo alternativas para as populações, para que essa atividade não tenha espaço aberto. Queremos dar respostas econômicas e alternativas sustentáveis para as populações não aceitarem esses tipos de atividade como meio de sobrevivência.